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Artigo originalmente publicado pela revista Carta Capital, em 13/4/2018
Um dia após ter avisado, em tom belicoso, que "mísseis virão", Trump escreveu outro tweet esclarecendo: "Nunca disse quando um ataque à Síria aconteceria. Pode ser em breve ou não tão cedo!" e desviou o assunto: "De qualquer forma, os EUA, sob minha administração, fizeram um ótimo trabalho em livrar a região do Estado Islâmico. Onde está o nosso 'Obrigado América?'"
De outro lado, o porta-voz do governo Putin declarou: "Não participamos da diplomacia Twitter. Apoiamos abordagens sérias". Independente da avaliação que possamos fazer sobre a participação do governo russo na Guerra da Síria, eis uma posição sensata, nada mais do que isso.
Mas a mídia, em geral, com destaque para os especialistas em relações internacionais, preferiu repercutir os tweets de Trump e pautar com estardalhaço que uma guerra de grandes proporções era iminente.
Aliás, alardes sobre possibilidade de Guerra entre as grandes potencias tornou-se frequente, no pós-guerra fria, a partir da Guerra de Kosovo, em 1999, quando EUA e aliados foram confrontados politicamente, é claro, pela Rússia já que os balcãs sempre foi considerado como sua área de influência.
Também data desse período uma maior assertividade da Rússia com a liderança de Putin que aparece como aquele que teria a responsabilidade de evitar novas humilhações de seu pais perante os “ímpetos expansionistas do Ocidente”.
Em 2008, foi a vez da Guerra Russo-Georgiana chamar a atenção do mundo esperando reação dos EUA. Mas o momento mais tenso de todo esse período foi a eclosão da guerra civil na Ucrânia, uma área muito mais sensível para os interesses russos, em que os EUA e aliados estiveram claramente envolvidos. Uma das consequências dessas ações foi a ocupação militar da Crimeia pela Rússia.
Assim, como está acontecendo agora, em 2013, o governo Obama declarou que o governo da Síria, com o apoio da Rússia, haviam ultrapassado a "linha vermelha" por terem, supostamente, usado armas químicas.
Há exatamente um ano (abril de 2017), Trump, declarando que não seria condescendente com o uso de armas químicas, como foi seu antecessor Obama, lançou “ataque-surpresa” com Mísseis Tomahawk contra o território sírio em represália ao uso de armas químicas. Mas, na verdade, não foi tão surpresa, pois Trump, literalmente, “combinou com os russos” (frase antológica de Garrincha) e todos os militares russos foram evacuados dias antes.
Todos esses fatos alimentam uma pergunta que é recolocada sistematicamente: vivemos uma nova Guerra Fria? Os assuntos internacionais de hoje estão muito além da Guerra Fria. Não há mais bipolaridade, a China se torna cada vez mais poderosa e há emergência de novos atores, nacionais e transnacionais. O conflito ideológico deixou de ser determinante, China, Europa, Índia, Rússia e EUA discordam em muitas coisas, mas não no valor do capitalismo e dos mercados.
Mas é importante ter em conta as lições do passado para compreender a formulação de ações estratégicas do presente, pesando as diferenças e as semelhanças já que não há como negar que a Guerra Fria criou o mundo em que vivemos.
Uma das célebres frases que sintetiza o período da Guerra Fria, com perfeição, " Paz Impossível, Guerra Improvável" (Raymond Aron) deixou de ter válida quando esta findou? Não há mais a disputa ideológica, mas permanece, contudo, a clássica disputa por territórios e ambos (EUA e Rússia) continuam armados da mesma forma que antes. Portanto, a formula continua, de certa forma, aplicável e a guerra é muito improvável entre os grandes, mas suas disputadas ocorrerão por "proxy wars" (guerras patrocinadas) que é tipicamente o caso da Síria.
Venhamos e convenhamos, qual o problema para EUA e Rússia morrer muçulmano? nenhum! aliás, pelo contrário é solução! Já faz um tempo que ambos promoveram a morte de milhões (Afeganistão, Chechenia, Iraque, Síria). Já morreram mais de 400 mil sírios e agora é que resolveram ficar consternados?
Os EUA ainda são a força econômica, militar e diplomática mais poderosa do mundo. Por outro lado, a Rússia e a China tem poder militar capaz de enfrenta-los. Mas, esses países são motivados pelo entendimento de que a atual ordem internacional forjada no final da Segunda Guerra Mundial serve a seus interesses, o que caracteriza como um dos mais longos períodos em que as grandes potências não entraram em conflito entre si.
O sociólogo Erving Gofman ja fez interessantes analogias da política com o teatro. Vamos parar de olhar para o front stage (palco) e indagar mais sobre o backstage (bastidores).
Pode parecer paradoxal, mas perceberam que EUA e Rússia se defrontam no front stage no exato momento em que mais se entendem nos bastidores? Quem foi que os russos ajudaram a se eleger? O problema da Síria não era o ISIS? e agora que esta derrotado, por que a Síria continua a ser um problema? Pois é, fica difícil para os EUA e Rússia explicarem não?
O fato é que os civis sírios só aparecem na discussão para as grandes potências fazerem seu teatrinho, nenhum deles dedica tempo ou recursos em pensar na forma como poderiam ser protegidos e como a Síria poderia ser reconstruída.
Não fique absorto nas movimentações que ocorrem no palco, tente descobrir o que está acontecendo atrás dele.
Clique aqui para ver a publicação original do arttigo do prof. Reginaldo Nasser.