Estudante de Jornalismo da PUC-SP vence concurso da Revista Piauí
Artur Maciel Rodrigues concorreu com outros 451 estudantes de jornalismo de todo Brasil
Artigo de autoria dos docentes Maria Helena Senger e João Carlos Ramos-Dias
Endocrinologistas
Professores titulares da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP (FCMS)
Embaixadores do programa #BOMBATÔFORA
O fim do século XIX e o início do XX foram palco para descobertas como os raios X e a radioatividade, com cientistas como Röntgen, Becquerel e o casal Marie e Pierre Curie sendo premiados com Nobels. Eram anos de progresso científico e o fascínio pelos raios X se estendeu a várias áreas da sociedade, como sapatarias para verificar o contorno do pé e até salões de beleza para remoção de acne e clareamento da pele1.
A radioatividade seguiu caminho similar, sendo usada em produtos de beleza e revitalização. Muitos produtos sequer tinham o rádio em sua composição. O tônico Radithor continha rádio. Vendido a preço alto, prometia curas milagrosas para fadiga e impotência sexual. A morte por câncer do golfista e empresário Ebner M. Byers em 1931, ávido consumidor do Radithor, encerrou esse comércio e levou à criação de regulamentos para radiofármacos2.
Embora essas descobertas científicas tenham trazido benefícios (radioterapia, exames de imagem), seu mau uso e a divulgação de falsas propriedades resultaram em charlatanismo. Pessoas como Byers se tornaram cobaias humanas, mas suas trajetórias ajudaram a avançar na pesquisa científica e no controle do uso desses componentes.
E os esteroides anabolizantes? Não são radioativos, mas também têm sido objeto de fascínio. Esteroides são moléculas fundamentais à vida, incluindo os sexuais, glico e mineralocorticoides, cada um com suas funções específicas. A testosterona, um esteroide sexual natural, tem importante função anabólica, estimulando o crescimento muscular, o aumento da massa óssea e a síntese de proteínas. Os esteroides anabolizantes sintéticos foram desenvolvidos para tratar condições médicas como perda de massa muscular e distúrbios hormonais.
No entanto, tem aumentado o uso de esteroides anabolizantes para fins não terapêuticos, como melhoria de desempenho atlético e estética corporal com efeitos adversos graves, incluindo problemas cardiovasculares, impotência, infertilidade e distúrbios psiquiátricos. Um estudo dinamarquês, recém publicado no JAMA3, revelou que usuários de esteroides anabolizantes têm 3,64 vezes mais chances de morrer por causas não naturais (principalmente acidentes) e 2,24 vezes mais chances de morrer por causas naturais do que não usuários.
E não há dose segura! Mesmo doses pequenas trazem complicações, pois a harmonia do controle de produção e ação desses hormônios é tão sutil, delicada e elegante que, se rompida, nem sempre é restaurada. E resultados laboratoriais baixos nem sempre traduzem produção insuficiente e necessidade de tratamento.
Atualmente o deslumbre pelos esteroides anabolizantes reflete a busca pelo caminho fácil e rápido para a cura de males, vigor físico e sexual. Amplamente divulgada pela mídia e por "influenciadores de opinião", tais falácias têm sido alimentadas por autoproclamados especialistas, médicos e não médicos, e por uma avalanche de desinformação. Criam-se cursos, conceitos médicos são renomeados com jargões publicitários redundantes, criando um glamouroso (e perigoso) tapete vermelho no qual desfilam egos a custos elevados. Ou seja, faltam educação, controle e regulação, mesmo após um século do Radithor!
O uso indevido e antiético dos esteroides anabolizantes cria um ambiente para que as pessoas se tornem cobaias, contribuindo, inadvertidamente, para o avanço científico através de seus comportamentos de risco e de sofrimentos (incluindo os financeiros, privados e públicos). Uma pena, mas nesse momento tão propício, as apostas estão abertas.
1Lima RS & Afonso JC. Raios-x: fascinação, medo e ciência Quim. Nova, 32(1):263-70, 2009