Jornal da PUC-SP

Contabiliza-se que, desde o início do século XX, a América Latina tenha vivenciado mais de 200 golpes de estado, acompanhados por períodos de grande instabilidade política. Desde os anos 1960, Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Equador, Peru, e outros, viveram momentos de tensão política que levaram a longos regimes ditatoriais. Apesar das diferentes realidades internas nesses países, é possível identificarmos pontos de aproximação entre as experiências nacionais, como a tentativa de enfraquecer movimentos de esquerda e a consolidação de ditaduras conservadoras conduzidas, em sua maioria, por militares, e marcadas por práticas sistemáticas de violações dos direitos humanos, como tortura, sequestros, perseguições e terrorismo de Estado. Soma-se a isso a interferência de atores internacionais, como os EUA, motivados por interesses geopolíticos, e o papel das elites financeiras que enviaram incentivos para grupos mais à direita no espectro político. Apesar dos anos 1980 marcarem o fim deste período sombrio da história latino-americana e o início da redemocratização, a lógica desses processos se repete em outros países da região, em outros tempos. Os golpes no Haiti, Honduras e Paraguai são exemplos de novas tentativas de desestabilização político-institucional, ainda que a ruptura tenha ocorrido em outros moldes. No próximo Terra em Transe discutiremos os golpes e "neogolpes" na América Latina e essa constante ameaça que paira sobre nossas recentes democracias.