PUC-SP sedia encontro de reitores de universidades comunitárias promovido pela ABRUC
A reitora Maria Amalia Andery recebeu o prêmio Mérito Educação Comunitária pela sua...
*Texto em colaboração com Daniela dos Reis Chagas
Depois de cerca de duas décadas à frente do Pindorama, Benedito Prezia recebeu, dia 5/6, uma homenagem de integrantes do projeto voltado a estudantes indígenas na PUC-SP. “O seu lado humano, Benedito, é sua caraterística mais evidente. Graças ao seu árduo trabalho, assim como o de muitos, temos hoje um Grupo Indigenista composto de estudantes e alunos formados pela PUC-SP, muitos dos quais atuam em suas comunidades originárias ou participam ativamente do movimento indigenista, defendendo as lutas dos povos indígenas das aldeias e das cidades. Enaltecemos o seu trabalho inspirador, junto às diversas composições da Coordenação Colegiada, composta por professores, estudantes e pela pastoral indigenista, que acompanharam, com atenção, o dia-a-dia dos estudantes indígenas do Programa Pindorama neste período”, afirmava a carta de agradecimento elaborada pela Pró-Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias, estrutura à qual o Pindorama está ligado e que idealizou e organizou a homenagem.
A cerimônia realizada online ocorreu após a saída de Benedito da coordenação do projeto, que tem como objetivo ofertar bolsas de estudos da Fundasp a indígenas estudantes da PUC- SP e acompanhá-los durante suas vidas acadêmicas. Benedito é historiador, escritor e um dos fundadores do Pindorama, convidado pela Pastoral Indigenista. “Agora deixa o papel de responsável formal pelo trabalho. Permanece no grupo coordenador mas, sobretudo permanecerá também o seu legado, construído em tantos anos de experiências para a garantia do acesso e permanência da população indígena na Universidade, objetivos que só poderiam ser alcançados de forma coletiva, dialógica e solidária”, ressalta a Pro-CRC em carta entregue a Benedito durante a cerimônia (clique aqui para ler o texto na íntegra).
O evento contou com a participação de antigos membros da coordenação, como Marisa Penna, Maria Cícera Oliveira Pankararu e Maria Aparecida Oliveira Pankararu, além de amigos, apoiadores, estudantes e ex-alunos, que manifestaram seus agradecimentos pelos anos de dedicação e comprometimento de Benedito.
Participaram da mesa de abertura da cerimônia os professores Pedro Aguerre e Alvaro Gonzaga, da Pró-CRC, Mariangela Belfiore Wanderley, chefe de gabinete da Reitoria, a professora Lúcia Rangel, antropóloga e participande desde o início da coordenação colegiada, Daniela dos Reis Chagas, atual coordenadora do Pindorama, e o homenageado, que falou da surpresa e alegria pelo momento de encontros e reencontros, apresentou brevemente o histórico do Programa e a participação de professores e indígenas na construção do projeto.
Em sua intervenção, a Pró-CRC ressaltou diversos pontos da relação de parceria com o Pindorama, incluindo o início dos trabalhos para construção de uma Biblioteca Indígena, com novas obras de autorias indígenas e que recupere e organize o acervo hoje existente. A professora Mariangela Belfiore trouxe a saudação e uma mensagem da reitora, professora Maria Amalia Andery, expressando, em nome de todos, o agradecimento da PUC-SP ao professor Benedito Prezia.
Conduzida pela professor Pedro Aguerre e por Daniela Chagas, a cerimônia prosseguiu com as homenagens dos estudantes e com manifestações dos participantes recuperando inúmeras histórias do programa, desde o seu início até os dias atuais.
Homenagens em vídeo
Além das partilhas dos participantes presentes no evento, foram transmitidos vídeos gravados por alunos, ex-alunos e lideranças indígenas, que por meio de suas tradições, mostraram que o Programa Pindorama vai além dos muros da Universidade e isto se deve ao empenho de sua coordenação e das ações, por vezes silenciosas, de apoio de Benedito.
Silvia e Antonio Kaimbé, do Movimento Kaimbé do Estado de São Paulo, apresentaram um Toré de gratidão a Tupã pela luta e doação do homenageado. Paulo Wasu Cocal, liderança indígena de Guarulhos, descreveu Benedito como grande escritor e mestre da literatura brasileira.
“Se hoje eu estou na PUC-SP, é por insistência dele, que sempre foi lá na aldeia, me motivou, incentivou o jovem da comunidade a estudar, a fazer faculdade”, afirmou Jacileide Augusto Vilar Martins Guarani Mbyá, estudante do curso de Ciências Socioambientais, em um relato emocionado. “Tenho o Benedito como um pai, que nunca desistiu e nunca desacreditou da minha capacidade”, completou.
Magda Kaimbé, que hoje vive em sua aldeia de origem (Massacará, Bahia), relembrou como conheceu Benedito e sua importância em seu reconhecimento étnico.
Vários ex-alunos do povo Pankararu fizeram questão de deixar seus recados. Maria Elizabeth Silva, formada em Letras no ano de 2004 e atualmente professora numa escola indígena em sua aldeia de origem, disse que queria “agradecer e homenagear o homem e ser humano incrível que ele é. Sinto uma imensa gratidão, uma felicidade indescritível e uma alegria muito grande em conhecer uma pessoa especial, pois quando eu mais precisei, ele segurou a minha mão”.
Edcarlos Nascimento Pankararu, formado em Serviço Social, membro da primeira turma (2001), falou da importância do Pindorama para o fortalecimento dos indígenas em contexto urbano e da transformação em sua vida após seu ingresso na Universidade e o apoio de Benedito. “É uma tristeza saber que o senhor está saindo do Programa, mas é uma alegria saber que você transformou vidas nesta selva de pedras chamada São Paulo”.
Keila de Oliveira Pereira Pankararé, estudante do segundo ano de Fonoaudiologia, em sua manifestação de agradecimento, afirmou que o “Benedito é o coração do Pindorama”.
Alexsandro Cosmo de Mesquita Potiguara, Doutorando e mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital (TIDD), aluno formado pelo Programa Pindorama e hoje membro da Coordenação, expressou a admiração por sua ajuda silenciosa e humilde, à indígenas e não indígenas.
Foram muitos outros relatos que emocionaram não apenas o próprio homenageado do evento, mas todos os presentes, que de certa forma se sentiram contemplados nos depoimentos e partilhas sobre Benedito e sobre o Pindorama.
“Que seu exemplo na defesa dos povos originários e seu compromisso com cada aluno e aluna indígena inspire todos os envolvidos e responsáveis pela continuidade do Programa Pindorama, assim como aos próprios estudantes indígenas, para que unindo seus saberes ancestrais aos saberes acadêmicos, fortaleçam suas comunidades originárias e a luta pelos seus direitos”, afirmou Daniela dos Reis Chagas, atual coordenadora do Pindorama.