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Vânia de Aquino Albres Santiago obteve o título de doutora no final do semestre passado
A tradutora e intérprete de Libras e guia-intérprete para surdocegos, Vânia de Aquino Albres Santiago, defendeu recentemente a tese de doutorado “Palavra, vozes e memória discursiva: concepções sobre ética do tradutor e intérprete de língua de sinais”, orientada pela profa. Beth Brait, pelo Programa de Pós em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (Lael).
Segundo a doutora, a atuação do profissional Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais (TILS) e do Guia-intérprete para surdocegos (GI) é uma atividade que envolve língua, cultura e alteridade, em um processo intenso de interação. Para ela, além da formação, da proficiência na língua de sinais e da imersão cultural nos modos de se relacionar com a comunidade surda, o profissional precisa ter uma noção de ética intrínseca à defesa da língua de sinais e do direito linguístico dos surdos. “Na pesquisa foi possível observar isso nos discursos analisados, que tocam o tema da formação do TILS no Brasil e apontam para relações de alteridade. Os discursos revelam, dentre tantos temas, a questão da responsabilidade e do compromisso com a comunidade surda e com a língua de sinais”.
Para a Vânia, a ética é um conteúdo teórico-filosófico, porém inseparável de reflexões sobre a vida prática, e, por isso ela acredita que deva ser tratado como um tema transversal, pelo viés social-político, acadêmico e jurídico-normativo, e pensado a partir de cada nova esfera de atuação do TILS e do GI. “Toda profissão tem suas questões relacionadas à ética, e a atividade de tradução e interpretação que opera no campo da mobilização discursiva, algo bem delicado, exige do profissional uma consciência ampliada do seu lugar no mundo e da ética situada no seu fazer cotidianamente. Acredito, a partir das minhas vivências e das reflexões na pesquisa que uma das responsabilidades do TILS é a garantir a participação dos surdos na vida social e política, de poder expressar-se e serem respeitados na sua singularidade linguística e cultural. Sei que isso é bastante coisa, mas é esse o caminho”.
Intérprete de Libras desde muito jovem, iniciou a carreira na esfera educacional, em 1998, interpretando na sala de aula, no ensino médio. Antes disso, já interpretava eventualmente na comunidade surda em Mato Grosso do Sul. Concluiu a formação como guia-intérprete no ano de 2011, em São Paulo, e desde então atua como guia-intérprete na esfera comunitária, especialmente na área da saúde, realizando o acompanhamento de pessoas surdocegas em consultas e tratamentos médicos. Em 2013, concluiu o mestrado, e nesse mesmo período começou a dar aulas em duas pós-graduações. “Nas aulas e em discussões com os alunos, percebi que eles traziam muitos conflitos, dilemas, percepções, e eu nunca deixei de pensar no tema da ética profissional como algo que merecia mais atenção”.
Para ela, o reconhecimento profissional está entre os maiores desafios da atuação profissional de TILS e GI, entrelaçado com o processo de reconhecimento da língua de sinais como língua, e com o processo de inclusão de pessoas surdas nas diferentes esferas sociais e na luta dos surdos pelo seu direito linguístico. “Com relação à atuação, posso dizer que é desafiante quando há a necessidade muitas vezes de mediar conflitos e situações delicadas em que faz a mediação da interação entre surdos e ouvintes que não sabem língua de sinais. Porque sabemos que essas relações ainda são pautadas por muito preconceito e desinformação”.
Legenda da imagem da defesa da esquerda para a direita: Carol Fomin (Intérprete de Libras), Vânia Santiago (Doutoranda), Profa. Dra. Lucia Masini (membro da banca), Profa. Dra. Beth Brait (Orientadora), Profa. Dra. Angela Lessa (Membro da banca), Profa. Dra. Patrícia Tuxi (Membro da banca) e Prof. Dr. Vinicius Nascimento (Membro da banca).