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Livro é fruto do Mestrado em Ciências Sociais do jornalista Bruno Capozzi Montalvão
2018, eleições presidenciais no Brasil. De que forma os candidatos Fernando Haddad e Jair Bolsonaro usaram o Facebook em suas campanhas? Como compreender os posicionamentos tomados na rede social a partir de uma releitura da Sociedade do Espetáculo (Guy Debord, 1967)?
Fruto destes questionamentos e de sua dissertação de mestrado, defendida no Pós em Ciências Sociais da PUC-SP, em 2020, o jornalista Bruno Capozzi Montalvão lança no próximo dia 15/6, o livro A campanha de Bolsonaro e a Sociedade do Espetáculo (ed. Appris).
A seleção de postagens realizada pelo autor para sua pesquisa compreendeu o período de propaganda eleitoral de 2018, tanto no primeiro quanto no segundo turno. Bruno quis compreender o fenômeno das redes sociais e o grau de amadurecimento da democracia no Brasil e analisou postagens selecionadas a partir de diferentes critérios como alcance, repercussão, espetacularização e desinformação. “O nosso regime de democracia representativa é questionado constantemente por causa da demonização da política. No atual contexto de personalização da política, o outro é visto como inimigo, e não adversário”, afirma o autor.
Orientadora do mestrado de Bruno, a profa. Rosemary Segurado considera importante a pesquisa ter analisado o que considera um momento singular das eleições brasileiras após a redemocratização. “O período é considerado por muitos cientistas políticos como o fim da chamada Nova República. A análise dos perfis dos candidatos no Facebook mostrou fatores fundamentais para a definição da preferência do eleitorado naquele momento tão singular do país”, afirma Rosemary. “Ao que tudo indicava, estávamos diante de um momento histórico. E foi o que aconteceu”, ressalta Bruno.
O lançamento do livro acontece dia 15/6, às 18h, na sala 4E-20 (4º andar, prédio novo, campus Monte Alegre).
Leia, a seguir, entrevista com o autor, que atualmente é editor executivo do Olha Digital, depois de ter passado pela rádio BandNews FM, onde foi produtor, repórter, editor, coordenador de redes sociais e apresentador.
J.PUC – Por que escolheu estudar esse tema?
Bruno – Quando entrei no mestrado da PUC-SP, o meu pré-projeto ainda era uma continuidade do meu TCC na faculdade: uma releitura da Sociedade do Espetáculo com base no desenvolvimento das redes sociais. Eu e minha orientadora discutimos alguns objetos de pesquisa para trazer a dissertação para um plano mais prático e não ficar apenas na teoria. E, naquele momento, janeiro de 2018, percebemos que as eleições seriam históricas. O conceito de Sociedade do Espetáculo é importante e, mesmo não sendo atual, traz uma luz filosófica bastante interessante para analisarmos cenários atuais. E foi o caso. Começamos a ver as postagens que os candidatos faziam mesmo antes da campanha começar e notamos esse grande potencial. Ao mesmo tempo, o ódio nas redes aumentava. Muito disso, por causa do único elemento 100% novo em 2018: o bolsonarismo. Ao que tudo indicava, estávamos diante de um momento histórico. E foi o que aconteceu.
J.PUC – O que você destacaria dos resultados de sua pesquisa? O que se confirmou e o que mais te surpreendeu?
Bruno – Essa pesquisa é, em primeiro lugar, uma releitura sobre a Sociedade do Espetáculo aplicada a um objeto específico (redes sociais) e um tempo específico (as eleições de 2018). Ou seja, em termos acadêmicos, espero contribuir com a discussão sobre esse importante conceito. Mas, reconheço, é uma contribuição restrita a um nicho. Em termos mais amplos, a importância está no registro histórico. O que aconteceu em 2018 não pode se repetir. Em termos de campanha, foram divulgadas notícias falsas criminosas. E, em sua maior parte, partiam do mesmo candidato e dos eleitores desse candidato. Claro, outros políticos e apoiadores também mentiam. Mas em uma proporção muito menor, como mostra o estudo. Do ponto de vista do resultado, desde que o Brasil voltou a ser uma democracia, nunca tivemos um momento tão ameaçador. E o resultado tem muito a ver com a campanha. Portanto, por mais que essas eleições tenham sido em 2018, o registro histórico é fundamental. Além disso, trazemos um contexto global de avanço da extrema-direita que antecedeu o pleito brasileiro. E esse cenário é de fundamental compreensão para que as democracias continuem vigilantes. O fantasma ainda não passou.
J.PUC – Você pesquisou a eleição de 2018. Em sua opinião, houve muitas mudanças em relação ao pleito de 2022, no que diz respeito à influência das redes sociais?
Bruno – A campanha de 2014 já foi bem suja nas redes sociais. O discurso de ódio já se mostrou intenso. 2018, porém, foi sem precedentes. 2022, claro, houve essa mesma tentativa. Contudo, vejo que as instituições democráticas estavam mais bem preparadas para lidar com tudo isso. A oposição também se preparou melhor. Outro fator importante a ser destacado é que, em 2022, Jair Bolsonaro ainda era presidente e foi aos debates. Isso impossibilitou que a estratégia de 2018 se repetisse em sua íntegra. 2018 foi quase que 100% redes sociais em um Brasil ainda sem preparo para lidar com as consequências disso. Em 2022, não tinha como estar totalmente preparado, mas já existia uma experiência.