PUC-SP recebe 38ª edição do “Curso de Verão”
Reitor Vidal Serrano Jr. participou da abertura das atividades, promovidas pelo Centro...
Participação do prof. Fernando Altemeyer Junior (Ciências Sociais)
Vivi na região da Wallonie, na Bélgica entre 1992 e 1994, na pequenina e amada cidade de Virginal (Vesnau). A capital da região é Namur, entre os rios Sambre e Meuse. Logo que cheguei para cursar o mestrado na Universidade Catolica de Louvaina, em 31 de julho de 1992, fiz um curso intensivo de francês para as aulas em setembro com um novo idioma para o qual eu tinha só alguns rudimentos do ensino médio (Bonjour, comment-allez vous?, Merci, allez y...). Uma das atividades do curso era a de imergir os/as estudantes: espanhóis, africanos, poloneses, ingleses, americanos e um brasileiro (eu) em atividades práticas do cotidiano belga.
Devíamos sair para comprar um pão, ou frittes ou um gauffre (waffle) em uma boulangerie ou petite marché; e mesmo comprar uma revista do Timtim no quiosque; falar com as pessoas das ruas, pedindo orientações de algum adresse (endereço). A mais imponente das tarefas da maratona foi visitar e ter relativa autonomia na Citadelle de Namur, para ao final celebrar com a saborosa bière blanche (cerveja de Namur).
O que mais me impactou foi poder conhecer a fábrica de perfumes Guy Delforge Parfums de Namur que tem os seus laboratórios de pesquisa e produção dentro das cavernas da rocha da citadela. Perguntei porque no ventre da rocha fazer perfumes? Me disseram que o sentido olfativo ficava mais acurado em um ambiente profundo de pedras virgens, sem misturar-se com os odores da superfície, plantas, pessoas, animais, poluição etc.
Como existem sete tipos de famílias olfativas é preciso distingui-las com perfeição. Ao visitar esse centro de criação único de novos perfumes e fragrâncias pude aprender algo sobre as várias fases da realização de um perfume. As fragrâncias nascem e amadurecem nas profundezas da Cidadela e as cores, estilos, sentidos se aprimoram e nos fazem fechar os olhos para sonhar. Um tio meu muito amado (Julius Vajda) sempre muito vaidoso, nunca saia para o trabalho sem um excelente perfume. Era muito bom estar perto dele por sua fineza intelectual e seu perfume corporal. As pessoas colocam perfume para mostrar-se belas, bonitas, diria eu, cheirosas. Uma pessoa perfumada na justa medida é uma benção. Muda a vida. Muda o ambiente. Alegra, entusiasma, enobrece. Sempre me ponho a pensar o quanto isso tem relação direta com o Santo Crisma, o óleo perfumado pela Igreja com o perfume do sândalo.
Cristo, é o perfume de Deus. O amor é o perfume da Igreja. Jovens recebem esse perfume para espalha-lo no mundo. Para atrair pessoas com essa fragrância. É um perfume que sai das profundezas de Deus, puro, altamente olfativo mas que não deve ficar nas cavernas, nas grutas, nos templos, nos frascos. O frasco precisa ser aspergido. O perfume precisa ungir quem está sem perfume ou sem gosto de viver, anda desanimado, cansado e sofrido. Perfume que nos prepara para a festa e amigos e amores. Todo enamorado coloca bom perfume para ver a sua amada/o. Assim como aquele perfume elaborado nas cavernas de Namur é posto em frascos para que os turistas o levem como recordação, o perfume de Cristo é essa marca na fronte dos cristãos feita pelos bispos e padres que é memória das flores e ervas e madeiras e até pedras odoríficas, sendo presença divina e esperança de paz. Da terra para o humano e do humano para Deus. Sentir o perfume de Cristo, cheirar o divino na vida da natureza como quem ama algo dessa experiência maravilhosa.
Crisma é um convite para que sejamos todos e todas perfumados e bonitos. De dentro para fora. Tirando o perfume de nossas cavernas interiores com sabedoria e delicadeza para mostrar/propor/saborear Deus. Deus nos corpos, nas narinas, nas bocas, nos corações, nas mentes, nas mãos e nos desejos mais íntimos. Ser ungido com esse óleo perfumado com sândalo é um salto no útero de Deus. Tornar-se um com a fragrância única de Cristo para ser "cheirado" pelos que crêem e pelos que nada mais acreditam. Ser esse "cheiro" de vida que dá vida. Irradiar o "cheiro", irradiar o "odor" do amor e do conhecimento profundo. "Cheiro" de coerência e da alegria em Cristo. Assim escreveu o apóstolo Paulo: "Graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo? (2 Coríntios 2,14-16)".
Uma gota de perfume muda o mundo. Sem exageros, nem arrogância. Perfume suave e duradouro. Doucement, agréablement, légèrement, avec de la finesse d´Esprit. Parfumé! Radiant! Unique! Merci Virginal et Namur pour cet apprentissage parfumé.