“Dia de primavera: o legado de Nadir Kfouri”
Documentário de estudante de Jornalismo mostra trajetória pessoal e acadêmica da reitora...
Falar da morte exige respeito e um silêncio reverencial. Sabemos quase nada da hora e da agonia da morte. Entretanto, temos confiança em algo maior e melhor. A morte não tem a última palavra. Sempre abunda amor e graça, onde parece vencer a dor e o limite do viver. Carregamos uma imensa dor pelos milhares de falecidos pela COVID, agora os massacres das guerras contra os povos no Oriente Médio, e na Africa e Asia. Tudo isso acaba rasgando nosso coração que vive em frangalhos ao contemplar a diário os mortos inocentes. Os senhores da guerra seguem tocando suas harpas como Neros endoidecidos. No dia de finados de 2024 clamamos por um bálsamo ou ungento perfumado para sanar as dores de povos e as famílias enlutadas. Precisamos chorar e rezar com cada família. Lágrimas que possam realizar o milagre do consolo e da paz verdadeira! Precisamos fazer memória dos mortos e de suas vidas entregues com forças e fraquezas. Sabemos que quem ama, não morre em definitivo. Sempre fica um pouco de perfume, nas mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas, diz a canção.
Viver a arte de morrer exige uma fé forte e teimosia amorosa. Temos tanto medo e temor que não enfrentamos o enigma. O livro do profeta Ezequiel, no capítulo 37, relata a visão de ossos secos em um grande planalto. Os ossos estão ressequidos porque a esperança desapareceu e o povo está esfacelado (v.11). Sem esperança e divididos, como mortos. Ezequiel clama ao Espírito de Deus para que sopre sobre os vivos sem esperança. A esperança é essa: que Deus firme a aliança de paz e vida! Assim podemos prantear as memórias, e buscar coragem para viver na esperança e contra as armas da morte.
Na hora da morte, nunca estamos sozinhos. Deus está conosco. Ao observar um defunto, vemos os restos mortais, mas sabemos que volta para Deus, por quem foi criado e para quem vive e convive pela eternidade. Nosso corpo mortal é revestido de carne, pele, sopro vital e da imortalidade, pois somos criaturas amadas pelo Pai celeste. Somos feitos de um tecido mortal embelezado por fios eternos. Quando miramos o verso do bordado, só vemos as costuras e os nós emaranhados. Quando passamos pela hora da morte, seremos virados pelo avesso e veremos a beleza daquilo que Deus bordou em nós, no corpo e na alma: essa beleza do amor que fecunda nossa vida, que é o segredo da verdadeira beleza pessoal. Nada da beleza se perde, tudo das feiuras se apagam. A vida penetra como água na terra fértil; desaparece, mas não se perde. Some da vista, mas fecunda as sementes, forma os lençóis freáticos e sobe tal como vapor ascendente até chegar a Deus. Como ensinou o cientista Louis Pasteur falando dos micróbios: “A vida preside o trabalho da morte”. Dando sentido ao viver estaremos sempre preparados para acolher a irmã morte, como São Francisco, que canta ao final da sua frágil vida: “Louvado sejas, meu Senhor, pela Irmã nossa, a morte corporal, da qual nenhum homem vivente pode escapar”. E, proclamar com Gabriel Marcel: “Amar é dizer: tu não morrerás jamais!”. A hora atual exige que as comunidades soprem forte sobre os ossos secos para alimentar a esperança. Um sopro de amor! Um sopro de vida. Uma nesga de luz. O amor de Cristo nos une. Deus Criador abre escancaradamente as portas da eternidade para a frágil humanidade. Cremos e esperamos, tal qual uma aposta pascalina. Recordar os falecidos realiza em nosso coração aquela memória viva dessa presença na comunhão dos santos. Deus é Grande. Deus é Mãe. Deus é Paz. Deus é vida nova. Façamos silêncio. Façamos memória de nossos amigos, parentes e amores que partiram deste mundo para os braços do Amor Eterno. Tempus fugit. Memento mori. Re-cordar todos e todas que me precederam na vida. Viver cada minuto da vida com serenidade e intensidade.
Que a hora da morte não apague em nossos corações todas as belezas da vida vivida e festejada. Quem ama lança fora o medo. Amando, saimos vivos do confronto final.
Shalom. Salam. Pax.