Artigo: Três lições de Natal

Texto escrito pelo prof. Fernando Altemeyer (Ciência da Religião)

por Redação | 16/12/2024

Três lições de Natal: Uma de Santo Atanásio de Alexandria, outra da Ucrânia e a terceira de minhas avós, a materna (Abuelita) Dolores Delgado Müller e a paterna (Oma) Bernardina Murawska Altmeyer

“O Verbo de Deus por amor de nós veio a este mundo, isto é, manifestou-se a nós de modo sensível. Compadecido da fragilidade do género humano, comovido pelo nosso estado de corrupção, não suportando que fôssemos vítimas da morte, tomou um corpo, um corpo semelhante ao nosso, para que não perecesse o que tinha sido criado nem se inutilizasse a obra de seu Pai ao criar o homem. O Verbo se fez humano, a fim de que nós alcançássemos a divinização (Atanásio de Alexandria: Sermão sobre a Encarnação do Verbo, 54)”. Lição primeira: Temos em nós a semente da eternidade.

A Ucrânia tem belos contos de Natal, entre os quais a Lenda da Aranha de Natal: Conta-se que uma pobre viúva e seus filhos não tinham dinheiro algum para decorar o Pinheiro de Natal, sendo obrigados a buscar uma alternativa sem imaginar nada digno do nascimento de Jesus. As aranhas que viviam na casa da família ouviram e compreenderam o choro dos filhos e decidem enfeitar elas mesmas, os galhos da árvore com suas teias. Na manhã seguinte, as belas e singelas teias apareceram refulgindo os raios de sol por toda a pequenina casa e a família percebe então que tem o suficiente para celebrar o Natal, mesmo sem muito dinheiro ou mercadorias. Bela lição de que a frugalidade e o necessário preenchem bem mais nossa alma sedente de beleza e amor, que a voracidade mercantil que nos deprime no hiperconsumo doentio.  Lição segunda: O singelo e o frugal são os portais da beleza. 

Em minha infância, nos anos 1960, aprendi de meus familiares do lado espanhol e do lado alemão as riquezas culturais de muitos povos e seus símbolos religiosos. Pelo lado espanhol, cantávamos cantigas de Natal, chamadas “villancicos”, particularmente uma que me emociona sempre: O menino do tambor (El tamborilero). Cantam os espanhóis: “O caminho que leva a Belém, desce o vale que a neve cobriu, os pastorzinhos querem ver ao seu rei, Trazem presentes em suas humildes sacolas. Eu quisera por aos teus pés, um presente que te agrade, Senhor! Mas, tu sabes que sou pobre também, e que só possuo um velho tambor, e em tua honra frente ao portal, tocarei o meu tambor. Vou marcando o caminho que leva a Belém com o meu velho tambor, e nada melhor há que eu te possa ofertar que este ronco acento, que é um canto de amor. Quando Deus me viu tocando diante dele, sorriu! Roponponpon, roponponpon! (https://www.youtube.com/watch?v=AQbMT7FbEsk)”. Do lado alemão, as festas de Natal mesclavam as tradicionais músicas e valsas alemãs como a Stille Nacht (Noite Silenciosa - https://www.youtube.com/watch?v=4puLybRGSAw), a singela Tannenbaum – Pinheiro de Natal (https://www.youtube.com/watch?v=lS4wTuvR7Ik) bem como abrir diariamente as 25 portinhas em um calendário de cartolina da minha avó alemã-polonesa, cada manhã do um até o vinte e cinco de dezembro. Era tempo alegre de expectativa na vida familiar. Lição terceira: não há porta ou janela que esteja fechada. Sempre há esperança. Cada amanhecer é sempre uma surpresa. 

Apesar de tantos sinais de dor e sofrimento no mundo, mantemos a esperança e as janelas abertas. Amanhã será um novo dia. Feliz Natal e boas festas. Aprendendo e ensinando novas lições. Aqui tem coração e luta em favor dos pequenos. Abraços afetuosos da pequena família Amorim Altemeyer Muller Delgado: Maria, Gabriel, Ana Clara e Fernando. Shalom, Asalamu Aleikum, Pax, Paz, Peace. Paix. Feliz Navidad. Frohe Weihnachten. CORAGEM! Esperança sempre. Abaixo a foto do calendário familiar que completa cem anos em 2026. Está bem machucado e gasto mas guardo com amor e memórias afetivas imensas.

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