Por: prof. José Mauro da Silva Rodrigues, coordenador da Área de Cirurgia Geral e do Trauma, chefe do Departamento de Cirurgia da FCMS/PUC-SP
Há 34 anos, que serão completados no próximo dia 28/4, um grave evento de trânsito ocorrido na Rodovia Castelo Branco envolveu sete munícipes de Sorocaba. Destes, dois morreram no local.
O que chamou a atenção para este acidente é que cinco dessas vítimas – inclusive os dois indivíduos que perderam a vida – prestavam socorro para as duas vítimas inicialmente envolvidas, quando foram atingidas por um caminhão.
Essa triste lembrança nos ajuda a entender a importância de conhecer os princípios do atendimento inicial a essas vítimas e os riscos envolvidos nesse processo.
Prestar socorro é, acima de tudo, um ato de solidariedade. Isso faz parte das atribuições esperadas de todos para viver em comunidade – lembrando que a sua omissão é crime previsto no Código de Trânsito Brasileiro.
A simples comunicação do evento aos agentes de trânsito ou socorristas já é suficiente para que essa obrigação seja cumprida e deve ser a única atitude esperada para aqueles que não têm treinamento específico para o atendimento desses eventos.
Tanto do ponto de vista legal quanto moral, não se exige mais do que isso, dados os sérios riscos envolvidos nesses atendimentos.
Em 20 de janeiro de 2018, uma socorrista de Sorocaba que trabalhava na concessionária de uma rodovia da região foi atingida por uma motocicleta ao sinalizar a pista depois de um evento. Ela estava sendo atendida por dois colegas, e um terceiro sinalizava novamente a pista, quando outro veículo atingiu os quatro, matando a primeira socorrista.
Vamos relatar cinco medidas básicas que podem ajudar nesses casos, desde que respeitados todos os cuidados necessários:
- Comunicar a ocorrência – Antes de qualquer outra medida, para que não haja atrasos. É importante conhecer os números telefônicos disponíveis para isso, tais como o SAMU (192), os Bombeiros (193) e os números das concessionárias das rodovias da região [CCR–ViaOeste: 0800 701 55 55, AB–Colinas: 0800 703 50 80, CCR–SPVias: 0800 703 50 30], que devem ser mantidos na agenda dos telefones celulares.
- Garantir a segurança na cena – Mantendo sempre a segurança pessoal, para evitar o aumento do número de vítimas, dificultando o socorro. Assim, principalmente em rodovias, é necessário parar adiante do local do evento, guardando uma distância segura e permitindo que a aproximação para o local seja feita frontalmente, com ampla visão do tráfego.
- Sinalizar o local – Utilizando o que estiver disponível: triângulos de segurança ou arbustos, por exemplo.
- Não movimentar as vítimas – Existem técnicas específicas para a retirada das vítimas dos veículos, no sentido de evitar o agravamento das lesões existentes. Além disso, para muitos desses casos, são necessários equipamentos específicos para a liberação das que estão presas em ferragens.
- Verificar se existem sangramentos que possam ser contidos – A hemorragia é a principal causa de morte evitável nos pacientes vítimas de trauma. Para as hemorragias dos membros superiores ou inferiores, deve-se providenciar o garroteamento do membro atingido, acima do ferimento. Esse garroteamento pode ser feito com um cinto ou um pedaço de pano com tamanho suficiente. É obrigatório anotar a hora da realização do procedimento. Para as hemorragias em outras localizações, deve-se providenciar a compressão do ferimento com um pedaço de pano.
Mais do que isso, só para aqueles que tenham treinamento específico em resgate e socorro de emergência, dados os riscos envolvidos mesmo para profissionais bem treinados.
O treinamento para a contenção das hemorragias é simples e deve ser disponibilizado para toda a população, sendo desejável que existam estojos disponíveis com os materiais necessários em locais estratégicos, como é feito com os desfibriladores para o atendimento da parada cardíaca.
A Área de Cirurgia de Emergência e Trauma da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP está preparada para oferecer esse treinamento.