Doutoranda da PUC-SP recebe prêmio do Conselho Federal de Psicologia
Premiação busca identificar, valorizar e divulgar estudos e ações que envolvam a Psicologia e as Relações Étnico-Raciais
Camila Rodrigues Francisco, doutoranda em Psicologia Social pela PUC-SP e Membra do Coletivo Neusa Santos recebeu o Prêmio Profissional Virgínia Bicudo: Práticas para uma Psicologia Antirracista. A premiação, feita pelo Conselho Federal de Psicologia, busca identificar, valorizar e divulgar estudos e ações de psicólogas(os), coletivos e grupos que envolvam a Psicologia e as Relações Étnico-Raciais, fundamentadas nos direitos humanos e que tenham impacto na saúde mental, na redução das desigualdades sociais e no posicionamento antirracista.
"Ao longo do meu percurso de psicóloga e ativista negra, realizo importantes descobertas sobre as publicações de intelectuais negros e negras em nosso campo. Em um desses encontros, a entrevista publicada em 1984 intitulada “Eu, mulher, psicóloga e negra”, forneceu importante contribuição. O texto da comissão editorial do periódico Psicologia, Ciência e Profissão apresentava questões sobre a formação e a atuação de quatro psicólogas negras, entre elas, Edna Maria Santos Roland. Ao acompanhar seu percurso me surpreende a força – até então, para mim, desconhecida – das pegadas que ela vai deixando, especialmente no que se refere ao ativismo no movimento negro e especificamente relacionado à saúde e a saúde reprodutiva, no contexto brasileiro e internacional. Afetada por esse encontro, escrevo sobre ela para ingressar no doutorado na PUC-SP com o deslumbre de quem reconhece sua própria imagem em tão raras vezes ao longo da trajetória acadêmica.
A pesquisa de doutorado precisou ser modificada – em processo de finalização, busca pensar sobre a atuação de psicólogas negras durante a pandemia, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, orientado pela profª Dra. Carla Cristina Garcia – mas o trabalho sobre Edna ramificou em outro belo fruto: a conquista do Prêmio Virginia Bicudo.
No texto premiado, tento sinalizar as pegadas da trajetória de atuação de Edna Roland no que eu entendo serem três pontos centrais. O primeiro é sua contribuição na realização do Tribunal Winnie Mandela, pensado como um evento simbólico de posicionamento da nação brasileira às violências direcionadas à população negra pelo Estado brasileiro, operacionalizado como um julgamento simbólico à Lei Áurea a partir de um júri simulado composto por um tribunal realizado em 1988. O segundo tem a ver com sua atuação no campo da saúde e especificamente na saúde reprodutiva, sendo onde se identifica sua maior produção acadêmica. O terceiro aponta para sua atuação como relatora da III Conferência Mundial contra o Racismo em Durban, em 2001.
Além da alegria da continuidade deste trabalho a partir do prêmio, espero prosseguir na ampliação do acesso ao trabalho desta inspiradora autora, intelectual da psicologia, ativista e mulher negra brasileira", afirma a doutoranda.