Estudantes de Direito participaram de visita ao CDP de Pinheiros

A atividade foi coordenada pela profa. Gabriela Araujo (Direito)

por Cláudio Oliveira | 10/06/2024
Acervo Pessoal

A profa. Gabriela Araujo (Direito) coordenou uma visita guiada para alunos do curso de Direito ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros.  A turma foi dividida em dois grupos, um deles sendo direcionado ao CDP II e outro ao CDP III, onde foram recebidos por seus respectivos diretores.

Foi a primeira vez que a docente coordenou uma visita de alunos a um presídio. “Conhecia esse tipo de visita como advogada, mas nunca havia feito com alunos. Se não me engano, essa atividade foi interrompida durante a pandemia e, após a reabertura, somos uma das primeiras turmas a participar”, comemora Gabriela.

A atividade ocorreu no dia 17/5 e contou com a participação de aproximadamente 40 alunos da turma MB2, do segundo semestre da graduação em Direito da PUC-SP.

Por serem estudantes ingressantes na área, a professora considera o contato fundamental para ampliar a visão dos alunos para além da tecnocracia dos códigos. “Alunos de Direito serão os futuros responsáveis por processos que podem resultar em prisões, por isso é importante que eles entendam que são pessoas de carne e osso que estão por trás de cada um dos casos em que eles atuarem”, reflete.

Outro ponto importante que a docente destaca do encontro entre estudantes e detentos é o contato mais próximo com o sistema penitenciário praticado no país. “Penso que a visita derrubou pré-conceitos e estigmas dos alunos em relação aos encarcerados e aguçou o senso crítico para o sistema penitenciário e a preocupação com a segurança pública sob o ponto de vista dos direitos humanos”, concluiu Gabriela.

 

Pessoas trans encarceradas

Além de todos os pontos destacados, houve um momento que emocionou a todos os participantes: o encontro com duas detentas transexuais, que fizeram uma apresentação musical.

Na ocasião a diretora adjunta do presídio, presenteou o grupo com o livro Translúcidas, obra organizada pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Sebastião Reis Júnior, cujo tema se refere à pessoas trans encarceradas.

Ao saber pela profa. Gabriela que os alunos se emocionaram especialmente com este momento da visita e demonstraram interesse no livro, o Ministro enviou cinco exemplares de sua obra para a biblioteca da PUC-SP e mais cinco para serem sorteados entre os alunos que participaram da visita.

 


Estudantes contam sobre a experiência

"Senti que essa visita foi muito significativa para mim. Academicamente falando, nos trouxe uma clara percepção do funcionamento de uma instituição prisional. Foi muito interessante porque ver na prática o processo penal é diferente de somente estudá-lo. É uma experiência que pouquíssimos alunos de Direito ao longo de suas formações terão. Uma experiência pessoal que vou lembrar eternamente, porque lá dentro consegui enxergar a volatilidade do ser humano ao se deparar com uma situação de cárcere e o quanto é, de fato, necessário que os direitos humanos sejam garantidos a absolutamente todos os cidadãos, inclusive àqueles desprovidos de liberdade. Com certeza nos fez refletir bastante sobre o tipo de profissional que queremos ser futuramente, para garantir para aquelas pessoas o mínimo existencial", Nicoly Fernandes


"A visita ao CDP de Pinheiros foi extremamente marcante para mim, acredito que não apenas academicamente, mas em todos os aspectos da vida. Penso que todos deveriam ter uma experiência como essa. Conhecer a realidade que muitas pessoas vivem no Brasil. O sistema carcerário é duro, cruel, pudemos observar isso lá. As celas superlotadas, um ambiente extremamente desagradável. Ouvir algumas das pessoas que trabalham no sistema e perceber que não têm a menor empatia é muito triste. O mais impressionante para mim foi um lugar chamado Aquário, que no caso do CDP de Pinheiros deu para observar os pavilhões, sem sermos vistos. Ficamos olhando o banho de sol, eles caminharem de um lado para o outro, sem terem o que fazer. Você consegue reparar que há superlotação e o sofrimento que isso causa é muito claro. Quando tocou a sirene para que voltassem às celas, pareciam robôs, caminhando enfileiradamente; vimos também pessoas escoradas, matando o tempo para o tempo não as matar, enfim uma realidade muito difícil e complicada", Gabriel Mariz


"A visita ao CDP de Pinheiros, sem dúvida, ressignificou a forma como eu enxergava o Direito, tanto pessoalmente quanto academicamente. Estamos tão acostumados a ver notícias sobre os presídios na televisão que, quando estamos lá pessoalmente, parece irreal. Academicamente, ter a possibilidade de vivenciar toda a burocracia do sistema prisional expande nossos horizontes sobre algo que, geralmente, aprendemos apenas na teoria. Foi uma experiência única. Além disso, deixando de lado a perspectiva de estudante de Direito e falando como cidadão, essa experiência foi essencial. Ela me permitiu entender melhor as instituições e, de certa forma, comparar se toda a 'idealização' por trás das normas está realmente amparada pelos princípios humanistas que regem nosso país", Vinícius Silva

 

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