PUC-SP na Mídia: artigo "O perfume de Cristo no sacramento da confirmação"

Participação do prof. Fernando Altemeyer Junior (Ciências Sociais)

por Redação | 30/05/2023

Vivi na região da Wallonie, na Bélgica entre 1992 e 1994, na pequenina e amada cidade de Virginal (Vesnau). A capital da região é Namur, entre os rios Sambre e Meuse. Logo que cheguei para cursar o mestrado na Universidade Catolica de Louvaina, em 31 de julho de 1992, fiz um curso intensivo de francês para as aulas em setembro com um novo idioma para o qual eu tinha só alguns rudimentos do ensino médio (Bonjour, comment-allez vous?, Merci, allez y...). Uma das atividades do curso era a de imergir os/as estudantes: espanhóis, africanos, poloneses, ingleses, americanos e um brasileiro (eu) em atividades práticas do cotidiano belga.

Devíamos sair para comprar um pão, ou frittes ou um gauffre (waffle) em uma boulangerie ou petite marché; e mesmo comprar uma revista do Timtim no quiosque; falar com as pessoas das ruas, pedindo orientações de algum adresse (endereço). A mais imponente das tarefas da maratona foi visitar e ter relativa autonomia na Citadelle de Namur, para ao final celebrar com a saborosa bière blanche (cerveja de Namur).

O que mais me impactou foi poder conhecer a fábrica de perfumes Guy Delforge Parfums de Namur que tem os seus laboratórios de pesquisa e produção dentro das cavernas da rocha da citadela. Perguntei porque no ventre da rocha fazer perfumes? Me disseram que o sentido olfativo ficava mais acurado em um ambiente profundo de pedras virgens, sem misturar-se com os odores da superfície, plantas, pessoas, animais, poluição etc. 

Como existem sete tipos de famílias olfativas é preciso distingui-las com perfeição. Ao visitar esse centro de criação único de novos perfumes e fragrâncias pude aprender algo sobre as várias fases da realização de um perfume. As fragrâncias nascem e amadurecem nas profundezas da Cidadela e as cores, estilos, sentidos se aprimoram e nos fazem fechar os olhos para sonhar. Um tio meu muito amado (Julius Vajda) sempre muito vaidoso, nunca saia para o trabalho sem um excelente perfume. Era muito bom estar perto dele por sua fineza intelectual e seu perfume corporal. As pessoas colocam perfume para mostrar-se belas, bonitas, diria eu, cheirosas. Uma pessoa perfumada na justa medida é uma benção. Muda a vida. Muda o ambiente. Alegra, entusiasma, enobrece. Sempre me ponho a pensar o quanto isso tem relação direta com o Santo Crisma, o óleo perfumado pela Igreja com o perfume do sândalo.

Cristo, é o perfume de Deus. O amor é o perfume da Igreja. Jovens recebem esse perfume para espalha-lo no mundo. Para atrair pessoas com essa fragrância. É um perfume que sai das profundezas de Deus, puro, altamente olfativo mas que não deve ficar nas cavernas, nas grutas, nos templos, nos frascos. O frasco precisa ser aspergido. O perfume precisa ungir quem está sem perfume ou sem gosto de viver, anda desanimado, cansado e sofrido. Perfume que nos prepara para a festa e amigos e amores. Todo enamorado coloca bom perfume para ver a sua amada/o.  Assim como aquele perfume elaborado nas cavernas de Namur é posto em frascos para que os turistas o levem como recordação, o perfume de Cristo é essa marca na fronte dos cristãos feita pelos bispos e padres que é memória das flores e ervas e madeiras e até pedras odoríficas, sendo presença divina e esperança de paz. Da terra para o humano e do humano para Deus. Sentir o perfume de Cristo, cheirar o divino na vida da natureza como quem ama algo dessa experiência maravilhosa.

Crisma é um convite para que sejamos todos e todas perfumados e bonitos. De dentro para fora. Tirando o perfume de nossas cavernas interiores com sabedoria e delicadeza para mostrar/propor/saborear Deus. Deus nos corpos, nas narinas, nas bocas, nos corações, nas mentes, nas mãos e nos desejos mais íntimos. Ser ungido com esse óleo perfumado com sândalo é um salto no útero de Deus. Tornar-se um com a fragrância única de Cristo para ser "cheirado" pelos que crêem e pelos que nada mais acreditam. Ser esse "cheiro" de vida que dá vida. Irradiar o "cheiro", irradiar o "odor" do amor e do conhecimento profundo. "Cheiro" de coerência e da alegria em Cristo. Assim escreveu o apóstolo Paulo: "Graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo? (2 Coríntios 2,14-16)".

Uma gota de perfume muda o mundo. Sem exageros, nem arrogância. Perfume suave e duradouro. Doucement, agréablement, légèrement, avec de la finesse d´Esprit. Parfumé! Radiant! Unique! Merci Virginal et Namur pour cet apprentissage parfumé.

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