Conselho Federal de Psicologia premia doutoranda da PUC-SP por estudo sobre a vivência de mulheres com HIV

Pesquisa aborda temática inexplorada e tem alto potencial de contribuição à saúde pública

por Redação / ACI PUC-SP | 10/12/2025

A pesquisa “Mulheres que vivem com HIV no Brasil: estigma e qualidade de vida”, de Beatriz Labonia, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP, foi reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). O estudo, orientado pela professora Edna Kahhale, ficou em terceiro lugar no 1º Prêmio Profissional Avaliação Psicológica e Justiça Social, realizado em Brasília, em 22 de novembro. 

A premiação foi lançada pelo CFP no início deste ano com o objetivo de reconhecer profissionais que fortalecem práticas avaliativas inclusivas e contextualizadas; promovem experiências e pesquisas comprometidas com populações historicamente minorizadas; e contribuem para uma avaliação psicológica orientada pelos princípios de justiça social e inclusão.

“Foi um trabalho muito bonito! Só tenho gratidão à PUC-SP, à professora Edna, à CAPES. Eu queria muito estudar o estigma e esse grupo mostrou, claramente, que o estigma funciona com o preconceito, com o estereótipo e a discriminação”, afirma Beatriz.

34,1% da epidemia de Aids

Desde 1980, o Brasil registrou 1.165.533 de casos de Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), conforme o Boletim Epidemiológico HIV e Aids 2025 divulgado pelo Ministério da Saúde, em dezembro. Esse cenário que configura uma epidemia é o ponto de partida da investigação de Beatriz, mais especificamente, a fatia que corresponde a 34,1% da série histórica: as mulheres.

De acordo com a professora Edna Kahhale, a PUC-SP é pioneira no trabalho de informação e prevenção do HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). “A gente faz esse trabalho aqui na PUC-SP a partir de estágios, que são uma oportunidade para os alunos atuarem nesses espaços de promoção. Então, não só os alunos aprendem, como eles têm um efeito multiplicador na sala de aula e promovem uma intervenção de outro jeito”, explica.

A Psicologia da PUC-SP é marcada pela perspectiva da Psicologia Crítica, abordagem que questiona os fundamentos da psicologia tradicional e analisa como a disciplina se relaciona com poder, ideologia, classe, gênero e raça. Trata-se de uma concepção que integra teoria e prática, buscando compreender subjetividades em um determinado contexto com a finalidade de promover transformação social.

O Conhecimento é Libertador 

A pesquisa foi realizada com 30 participantes de até 70 anos. E a faixa etária foi crucial para se chegar a uma das conclusões da pesquisa, a de que o “conhecimento é libertador”. A maior letalidade foi observada na amostragem acima de 45 anos, ou seja, correspondente ao período em que o vírus HIV ainda não era tão conhecido pela comunidade científica.

É a partir de 1995 que a ciência avança e favorece um cenário de mais informações sobre as formas de infecção, possibilidades de tratamento e qualidade de vida enquanto pessoa soropositiva. A difusão do conhecimento também auxilia na diminuição do preconceito e da discriminação, pois a pessoa que vive com HIV consegue ter qualidade de vida, trabalhar, estudar, ter lazer enquanto durante o tratamento.

Para a Edna Kahhale, a pesquisa que orientou veio um momento oportuno. “Ter conseguido desenvolver essa pesquisa na Pós-graduação também amplia a possibilidade de mais pesquisas, de pesquisar de outro jeito, de alertar para questões novamente emergentes e necessárias de serem enfrentadas e qualificadas”.

Se por um lado a ciência faz a sua parte ao fornecer informação e tratamento, por outro, a sociedade está falhando. Da totalidade da amostragem da investigação, 73,3% foram infectadas por parceiros com quem mantinham relacionamento fixo; 10%, a partir de uma relação casual; e 16,7% não souberam dizer porque não tiveram a confirmação por omissão ou desaparecimento do parceiro, sendo por vezes até maltratadas.

“O conhecimento é libertador. Uma pessoa informada tem como se prevenir. Em casos de possível exposição ao HIV, recomenda-se iniciar a PEP (Profilaxia Pós-Exposição) o mais rapidamente possível — com limite de até 72 horas. Esse intervalo refere-se ao prazo máximo para início do tratamento, e não ao tempo de eliminação do vírus. A PEP consiste em um esquema de 28 dias capaz de reduzir significativamente o risco de infecção”, alerta Beatriz.

Segundo Edna, a importância da pesquisa reside no fato de ser uma temática inexplorada e com alto potencial de contribuição à saúde pública.   

“Na área de saúde mental, de psicologia, de comportamento humano, não tem nenhuma pesquisa igual à de Beatriz, com um número grande de entrevistas com mulheres que vivem há um tempo com HIV e que, portanto, sofrem todas as discriminações que as mulheres em geral sofrem, somadas às discriminações do vírus do HIV. A pesquisa, a voz dessas mulheres, mostrando estigmas, preconceitos que elas enfrentam, é uma forma de alertar não só a população, mas de tentar promover saúde para quem não vive com o vírus”, conclui.

Informações importantes

Os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e os Serviços de Atendimento Especializado (SAE) são espaços voltados para tratamento e orientação de ISTs. 

Os CTAs oferecem orientações sobre prevenção, testes para diagnóstico do HIV, preservativos internos e externos, gel lubrificante, além das Profilaxias Pré e Pós-Exposição (PEP e PrEP, respectivamente).  Além das tecnologias de prevenção já ofertadas pelos CTAs, os SAEs também oferecem consultas e tratamento para HIV/Aids e coinfecções, inclusive hepatites virais e tuberculose.

Tanto os SAEs quanto os CTAs funcionam de segunda a sexta, das 7h às 19h. Os atendimentos de prevenção e cuidado são gratuitos e realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Para mais informações, consulte os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e Serviços de Atendimento Especializado (SAE) em São Paulo: https://prefeitura.sp.gov.br/saude/w/istaids/245171. Além dessas unidades, é possível acessar mais de 4.000 serviços de saúde cadastrados para testagem de HIV, Sífilis e Hepatites B e C em São Paulo. Consulte aqui: https://crt.saude.sp.gov.br/fiquesabendo/.

Em maio de 2019, em Nota Informativa nº 5, o Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde (DCCI/SVS) do Ministério da Saúde, atualiza o conceito indetectável como igual a intransmissível (I=I) para as pessoas que vivem com HIV, ou seja, quem faz o tratamento antirretroviral e tem carga viral indetectável há pelo menos seis meses não transmite o vírus sexualmente. São recomendáveis, todavia, o exame da carga viral a cada seis meses e o uso de preservativo para proteção de outras infecções sexualmente transmissíveis. O uso do conceito I=I foi baseado em evidências científicas e passou a ser usado por cientistas e instituições de referência sobre o HIV em todo mundo.

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