LAEL: destaque internacional com estudo sobre pandemia e desinformação
Resultados de grupo de pesquisa foram apresentados no congresso Corpus Linguistics 2023, realizado em Lancaster, Reino Unido
Por: Guilherme de Oliveira Paes (Bolsista CAPES, Mestrado) e Tony Berber Sardinha (Vice-coordenador do PPG em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem)
Em um esforço conjunto para entender e enfrentar os efeitos da infodemia de COVID-19 na comunicação online, o Grupo de Estudos de Linguística de Corpus da PUC-SP (GELC) encabeça o projeto Pandemia e infodemia de COVID-19: Disseminação de discursos de informação e desinformação por meio de ecossistemas de texto e imagem, apoiado pela CAPES com verba de custeio e bolsas de estudo. O projeto visa a mostrar o funcionamento da infodemia e seus impactos na sociedade.
Embora a pesquisa científica seja mais reconhecida em áreas como tecnologia e saúde, o projeto mostra como a pesquisa linguística também pode abordar questões contemporâneas cruciais, como a infodemia. Através da colaboração de dezessete pesquisadores do Brasil e do exterior, a iniciativa se propõe a mostrar as várias dimensões dos discursos compartilhados por texto e imagem. Entre os temas abordados estão a o genocídio, movimentos antidemocráticos, xenofobia, o movimento antivacina, pseudociência e fake news.
Durante o congresso Corpus Linguistics 2023, realizado em Lancaster, Reino Unido, entre os dias 3 e 6/7, catorze membros do grupo, incluindo alunos e professores, compartilharam os resultados de suas pesquisas por meio de painel, comunicações e pôsteres. As apresentações destacaram a metodologia inovadora baseada em Linguística de Corpus, computação, inteligência artificial e estatística, bem como a interpretação qualitativa de centenas de milhares de postagens, imagens e textos.
Carlos Kauffmann, bolsista de pós-doutorado do projeto, compartilhou sua experiência no congresso. Leia a seguir:
Guilherme de Oliveira Paes - Grupo de Pesquisa (GP) – Quais suas impressões sobre o congresso e que avaliação você faz da participação do GELC?
Carlos Kauffmann (CK) – O GELC formou um grande grupo neste congresso bianual que concentra o maior número de pesquisadores internacionais em nossa disciplina. Foi extremamente produtivo. Além de apresentarmos trabalhos individuais foi realizado um painel que elencou de maneira organizada várias pesquisas do grupo. Tivemos palestras com dois dos linguistas de corpus mais importantes, os professores Douglas Biber, da Northern Arizona University (EUA), e Tony McEnery, da Lancaster University (Reino Unido). Eles e outros palestrantes apresentaram visões teóricas inovadoras e pesquisas de ponta com temas atuais como a desinformação e até literários, como a obra de William Shakespeare, que foi reanalisada na perspectiva da linguística de corpus e gerou uma nova enciclopédia. Seu primeiro volume impresso foi lançado no congresso.
GOP – Como você acredita que sua pesquisa poderá contribuir para o enfrentamento dos desafios impostos pela infodemia?
CK – Falo como integrante do grupo de pesquisa em Infodemia, que tem desenvolvido uma série de pesquisas em torno desse fenômeno, que engloba todos os tipos de informação. Observamos que o discurso infodêmico está inscrito no ecossistema de informação, cada vez mais veiculado em redes sociais e assumindo formatos multimodais. A pesquisa vem trazendo respostas para contribuir no combate ao discurso infodêmico. Por exemplo, estão sendo desenvolvidos modelos gerados por aprendizado de máquina que conseguem detectar com alta precisão alguns desses discursos infodêmicos, como os do movimento antivacina e os de grupos antidemocráticos que se opõem ao STF.
GOP – Quais foram as maiores dificuldades no desenvolvimento de sua pesquisa?
CK – Falando por todos os integrantes do grupo da Infodemia, posso dizer que a fase mais trabalhosa foi validar manualmente milhares de tuítes, em várias rodadas, para se chegar a um consenso e decidir quais deles tinham um efeito de sentido que apoiasse uma causa antidemocrática particular. Esse conjunto de dados feito por nós alimentou posteriormente os modelos gerados por inteligência artificial para a detecção automatizada desse tipo de discurso, então acho que valeu muito a pena.
GOP – Quais os próximos passos?
CK – Com a publicação dos resultados das pesquisas do grupo poderemos aumentar a conscientização para o problema da circulação de informações no contexto da infodemia, e quem sabe ajudar a orientar políticas públicas para o combate ao discurso infodêmico.