Cooperar Saúde: programa da PUC-SP oferece ginástica laboral a recicladores

Projeto visa institucionalizar o cuidado com a saúde dentro da cooperativa de materiais de reciclagem

por Renata Nascimento | 10/05/2023

O Projeto Cooperar Saúde realiza, semanalmente, intervenções fisioterapêuticas nos trabalhadores da Cooper Vira Lata - cooperativa de reciclagem que atua há mais de 20 anos com coleta, triagem e comercialização de materiais recicláveis no Jardim Jaqueline, Zona Oeste de São Paulo.

Criado em outubro de 2022 pela profa. de Fisioterapia, Luciane Frizo Mendes, o projeto tem como objetivo institucionalizar o cuidado com a saúde dentro da organização de materiais de reciclagem.

Segundo a profa. Luciane, o Cooperar Saúde surgiu após a cooperativa identificar a necessidade de intervenções terapêuticas nos recicladores, que se queixavam de dores musculares. A diretoria da organização, que já mantinha contato com o curso de Fisioterapia, procurou a Universidade para implementar um projeto que ajudasse os cooperados. A docente fez a primeira visita à cooperativa no final de 2021 e identificou um campo possível de intervenção. "A primeira ideia foi levar um estagiário do sétimo período para a instituição, no entanto, percebemos que o local não oferecia o espaço ideal para o estagiário se desenvolver, de acordo com as exigências pedagógicas. Neste período, vimos o alto número de queixas dos cooperados, então, o projeto Cooperar Saúde surgiu a partir dessa demanda, para levar a intervenção e os benefícios para os cooperados", comenta. 

Beatriz dos Santos Oliveira, estudante do terceiro ano do curso de Fisioterapia e atuante do projeto participa do projeto desde o início e afirma que as sessões de fisioterapia têm ajudado nas dores corporais dos recicladores. “O trabalho realizado na cooperativa é bem pesado, a maioria dos cooperados relatam que sentem dores em diversas partes do corpo, além de muito cansaço. O projeto permitiu que esses trabalhadores pudessem parar um momento do seu dia para dar atenção à sua saúde, bem-estar físico e emocional, uma vez que a ginástica laboral serve tanto para fortalecer, alongar e relaxar o corpo, quanto para um momento em que eles podem se distrair e interagir mais entre si.”

De acordo com André Luiz Ubeda, estudante do terceiro ano de Fisioterapia e atuante do projeto, é possível notar diversos aspectos de evolução nos cooperados. “Eles dizem que se sentem melhores, com menos dores. É possível notar a evolução dos cooperados em cada sessão, eles conseguem desenvolver os exercícios com mais facilidade, ou então não sentem mais as dores que sentiam no início do projeto”, afirma André.

Como o projeto funciona

As aulas de ginástica laboral são praticadas duas vezes por semana dentro da própria instituição. Durante as sessões, são realizados exercícios de alongamento para os grupos musculares que são mais utilizados durante as atividades de trabalho e exercícios de fortalecimento resistido para a musculatura antagonista dos movimentos exigidos. Também são propostas algumas atividades lúdicas de integração e exercícios para coordenação motora.

Eloíza Fernanda Pereira trabalha na Cooper Vira Lata há 11 anos e participa do projeto Cooperar Saúde desde o início. Ela afirma que conseguiu melhorar a qualidade do trabalho por meio das sessões de fisioterapia. “Levo no meu dia a dia e continuo fazendo frequentemente diante do que a professora ensinou, e recomendo o projeto para outros colegas”, afirma a cooperada.

De acordo com a profa. Luciane, a participação dos trabalhadores no programa apresenta uma boa adesão, em torno de 70% de um total de 45 cooperados participam da ginástica laboral. “Tem sido uma atividade de extensão muito gratificante, a cada encontro aumenta a confiança entre os cooperados e a equipe do Projeto Cooperar Saúde. Quero lembrar que a cooperativa gera trabalho e renda às pessoas em vulnerabilidade social e que passam a ter na reciclagem uma oportunidade de profissionalização e sustento da família. Assim, o projeto tem despertado nessas pessoas a importância do autocuidado e, mais ainda, possibilitado que o cuidado em saúde se torne um processo de humanização e valorização dessa ocupação”, comenta.

O impacto na vida acadêmica dos alunos

O Cooperar Saúde é um projeto de extensão com bolsa do Plano de Incentivo a Projeto de Extensão (Pipext), que apoia atividades extensionistas da Universidade, intensificando a presença da PUC-SP em ações junto à comunidade externa e fortalecendo o seu caráter comunitário e filantrópico. Além disso, o projeto também visa contribuir com o intercâmbio de conhecimento e práticas entre a Universidade e diferentes setores sociais.

O projeto também tem ajudado os alunos participantes. “Para os estudantes tem sido uma oportunidade de aprenderem o processo de implementação do programa de ginástica laboral, desenvolverem habilidades de comunicação verbal e corporal, além de colocarem em prática os conhecimentos adquiridos nas disciplinas teóricas do curso”, comenta a profa. Luciane.

Para Beatriz, o projeto ajudou a compreender a como lidar com o paciente em todas as dimensões. “Além da parte física, existe toda uma parte psicossocial que também é importante ser levada em consideração na intervenção fisioterapêutica. Além disso, entendi a importância de ser criativa e me adaptar à realidade das pessoas para poder oferecer alguma intervenção fisioterapêutica. No nosso trabalho na cooperativa, por exemplo, sempre utilizamos materiais que possam ser de fácil acesso para qualquer um dos cooperados, coisas que eles tenham em casa ou possam adquirir facilmente. Isso faz toda a diferença, já que além da ginástica na Vira Lata, muito sentem a necessidade de se exercitar em casa também”, comenta a estudante.

André afirma que o maior aprendizado do projeto foi o contato entre terapeuta e paciente. “Foi a primeira vez em que tive esse contato maior, onde eu pude ver a evolução de cada um deles, ver também que pra eles, nós estávamos fazendo a diferença. É um ambiente leve, onde todos ali sempre querem que estejamos presentes, caso alguém falte, todos eles já sentem falta. Então acho que o que fica é esse sentimento de poder fazer a diferença e poder melhorar a vida deles”, finaliza.

Todas as fotos utilizadas na matéria são de autoria do fotógrafo Silvio Gurgel, voluntário da cooperativa Vira Lata.

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