Dez anos após iniciativa ser implantada em Sorocaba, programa de proteção radiológica contribui para projeto nacional

por Redação | 27/10/2021

Em 2011, a radiologista Mônica Oliveira Bernardo propôs ações voltadas à comunicação dos riscos e benefícios dos exames radiológicos, reforçando, principalmente, o aumento da conscientização dos profissionais da saúde e da população no atendimento às crianças. A iniciativa decorria da sua tese de mestrado, desenvolvida durante o curso de mestrado Educação nas Profissões da Saúde, promovido pela PUC-SP no campus Sorocaba, e foi colocada em prática no Hospital Dr. Miguel Soeiro (HMS).

Com o apoio de uma operadora de plano de saúde, diversos hospitais pelo Brasil adotaram a iniciativa. O Colégio Brasileiro de Radiologia vem constantemente apoiando e aperfeiçoando propostas com enfoque educacional em proteção radiológica aos pacientes e profissionais de saúde, apoiadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria, pelo Conselho dos Técnicos de Radiologia, pela Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, pela Associação Brasileira de Física Médica e pela Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular - que incluem as recomendações mundiais na conduta clínica sobre o tema.

 

Como tudo começou

Em 2009, ao participar de um congresso em Chicago (EUA), Mônica Bernardo conheceu a Image GentlyR, campanha de amplitude mundial lançada por uma aliança promovida pela Sociedade Americana de Radiologia Pediátrica. O objetivo daquela ação era proporcionar maior segurança e efetividade, visando à conscientização dos profissionais da saúde e da população em relação aos exames de imagem que utilizam radiação ionizante em pacientes infantis.

A iniciativaImage GentlyR ganhou apoio de três importantes instituições norte-americanas: a Academia Americana de Físicos Médicos, a Sociedade Americana de Técnicos em Radiologia e o Colégio Americano de Radiologia, que congregam profissionais ligados às áreas de pediatria, radiologia, física médica e segurança em radiação.

O estudo proposto pela mestranda em Sorocaba consistia em desenvolver, no HMS, um projeto de intervenção educacional e multiprofissional. Ele envolveu desde pediatras até enfermeiros, técnicos em radiologia e profissionais administrativos nas recepções da emergência do hospital, com enfoque no aprimoramento das recomendações sobre a decisão clínica e adequação da dose dos exames radiológicos.

Todos eles faziam parte de uma cadeia que precisaria quebrar uma cultura e esclarecer que os exames de imagem são necessários quando justificados (isto é, indicados), dependendo do exame clínico do médico, sendo uma ferramenta complementar ao diagnóstico. Quando realizados, eles devem ser ajustados com a menor dose possível, devendo salientar que exames como a radiografia e a tomografia podem salvar vidas. A indicação deve ser uma decisão médica baseada em medicina de evidência e recomendações nacionais e internacionais.

Em outras palavras, o objetivo básico era transmitir conhecimento tanto sobre os riscos, quanto sobre os benefícios dos exames radiológicos e os critérios ideais para nortear suas solicitações. “No serviço de emergência do HMS, ajustamos os protocolos de tomografia computadorizada de crânio para crianças com hipótese diagnóstica de trauma cranioencefálico”, explica Mônica Bernardo. “A campanha contou com o embasamento da Image Image GentlyR”, completa.

 

Comparações, riscos e culturas

Os riscos das radiações dos exames de imagem não são bem esclarecidos e dependem de muitas variáveis de cada indivíduo.

A título de comparação, um exame de raios-X de tórax simples equivale a um dia de radiação da natureza e uma tomografia de crânio corresponde a mais de oito meses de radiação natural. “O exame deve ser realizado sempre que indicado pelo médico”, reforça Mônica Bernardo.

“Atualmente, tomografias são mais acessíveis e rápidas na execução”, observa. “Os recursos tecnológicos devem sempre ser aplicados, especialmente nas crianças, e monitorados pelos profissionais da área de radiologia, sendo um procedimento extremamente seguro e com grandes benefícios quando recomendado. Tratam-se de uma descoberta que salva vidas e supera o baixo risco, mas não deve ser aplicada se não for necessário. O importante é fazer com qualidade e menor exposição”, relata.

Assim, o objetivo inicial da campanha no HMS era reduzir a exposição desnecessária às crianças – sem perder a qualidade dos exames – e vencer a cultura existente entre alguns médicos e boa parte da população em relação à real necessidade dos exames de imagem.

Mônica Bernardo enfatiza que o exame radiológico deve ser utilizado e trata-se de um procedimento muito seguro, pois contribui no diagnóstico e a dose de radiação é pequena. O ponto central da questão é que esse recurso deve ser utilizado quando necessário, lembrando que existem outros métodos diagnósticos sem radiação ionizante, como o ultrassom e a ressonância magnética.

 

O Brasil descobre a iniciativa

Como o Hospital Dr. Miguel Soeiro pertence à Unimed Sorocaba, após a implantação e os resultados iniciais do Programa de Proteção Radiológica proposto por Mônica Bernardo, a Unimed Brasil tomou conhecimento e, em 2015, lançou uma campanha nacional propondo a iniciativa.

“Ao todo, 25 outras Unimeds, em diversos estados, adotaram o programa e desenvolveram suas comissões de proteção radiológica, inclusive com as guias de implantação”, observa.

No meio acadêmico, o assunto também germinou. Os princípios de proteção radiológica, justificação e otimização foram incorporados ao currículo do curso de medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP.

Já na esfera das categorias profissionais, participantes da iniciativa ligados ao Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) retomaram a Comissão de Proteção Radiológica (atualmente, coordenada por Mônica), adotando ações educativas voltadas à comunidade médica, profissionais da saúde e pacientes; a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou, em conjunto com o CBR, a campanha “Justifique”; e o Conselho dos Técnicos de Radiologia, a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, a Associação Brasileira de Física Médica e a Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular fizeram recomendações sobre proteção radiológica aos seus associados e às suas respectivas classes profissionais.

 

Sobre a autora da iniciativa e suas opiniões

Mônica Oliveira Bernardo é doutora pela Unicamp; mestre em ciências PUC-SP, pela qual possui especialização na área de Educação e Saúde; cursou residência em clínica médica e radiologia e diagnóstico por imagem no Hospital Heliópolis; foi visiting fellow da Universidade de Minnesota na área de Tomografia e Ressonância Magnética; é a atual coordenadora da área de conhecimento em diagnóstico por imagem e docente da Faculdade de Medicina da PUC-SP, na qual também coordena a Liga de Radiologia; é membro do Instituto de Pesquisa e Ensino do Comitê de Radiologia e do Grupo de Inovação da Unimed Sorocaba; é a atual supervisora de proteção radiológica do Hospital Dr. Miguel Soeiro; é membro do Comitê de Adequação e coordenadora da Comissão de Proteção Radiológica do Colégio Brasileiro de Radiologia; e é membro do Colégio Brasileiro de Radiologia, da Sociedade Paulista de Radiologia, da Sociedade Europeia de Radiologia e da Sociedade Americana de Radiologia.

“Sinto-me muito agradecida pelo apoio que recebi e feliz por poder promover benefícios aos pacientes e aos médicos que atuam com a nossa profissão médica”, declara. “Espero que, cada vez mais, seja fortalecida a cultura de proteção radiológica e seus princípios básicos de justificação e otimização da dose dos exames radiológicos. É importante a aplicação de tecnologia nos equipamentos dessa natureza, visando à redução da dose e ao aumento de conhecimento e informação da comunidade acadêmica e científica, assim como da população.”

“Exames radiológicos salvam vidas, desde que bem aplicados. A OMS está com enfoque em aumentar o diálogo com especialistas da área sobre os riscos e benefícios desses exames. Tive a oportunidade de participar de um curso da entidade sobre este tema.” Ela pontua: “Agradeço ao professor-doutor Fernando Antonio de Almeida, da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP, pelo total apoio e pela visão do benefício da campanha aos médicos, estudantes e pacientes”.

O mestrado em Educação nas Profissões da Saúde, para profissionais de todas as áreas da saúde, está com as inscrições abertas até 29 de outubro, no site da PUC-SP.

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