Medicina: seleção para estágio no exterior valoriza a performance acadêmica
Um programa de estágio criado em 2015 pelo livre-docente e professor-doutor Paulo Aguiar valoriza o desempenho e a postura dos candidatos em suas respectivas faculdades. As vagas são direcionadas aos estudantes de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde (FCMS) da PUC-SP e, também, de outras escolas nas quais ele também leciona.
Segundo explica o professor Paulo Aguiar, a seleção é rígida e criteriosa. “Premiamos com esses estágios os alunos que apresentam alta performance acadêmica e padrões exemplares de comprometimento com os estudos, que não tenham vícios de qualquer natureza e que tenham proficiência inquestionável na língua inglesa.”
Os estágios são desenvolvidos em universidades reconhecidas mundialmente, como a Johns Hopkins, a Universidade de Stanford e a Cornell Weil, nos Estados Unidos; a Western University e a Universidade de Saskatchewan, no Canadá; o Hospital Universitário Carl Gustav Carus, na Alemanha; e a Universidad Peruana Cayetano Heredia, no Peru. Nelas, o livre-docente mantém uma rede de colegas e amigos, bem como trânsito frequente.
O professor só lamenta pelo fato de que, até o momento, nenhum bolsista – sobretudo aqueles atendidos com os recursos do ProUni – tenha sido selecionado para o programa. “O sistema educacional do Brasil está errado”, pontua. “O Estado tem que investir no Ensino Médio, o qual, em meu ponto de vista, deveria ser socializado”, sugere. “Não será na universidade que se compensará a diferença de um Ensino Médio ‘pobre’ em relação a um Ensino Médio ‘rico’. Por essa razão, acredito que as escolas privadas deveriam ter a obrigatoriedade de oferecer uma cota maior de bolsas.”
Cada grupo de selecionados no programa de estágio é formado por 50% de alunos da FCMS e o restante, das outras faculdades de Medicina participantes. A escolha é feita por um colegiado formado pelo próprio professor Paulo Aguiar, por uma professora do Centro Universitário da Faculdade de Medicina do ABC e pelo titular da Coordenação do curso de Medicina da FCMS.
A opinião de quem participou
Entre julho e agosto de 2022, Gabriela Gerenutti de Sousa, aluna do 6º ano do curso de Medicina da FCMS, participou de um programa de observação médica na área de neurocirurgia, na Universidade de Tübingen (Alemanha). Ali, o estudante acompanha um profissional específico ou um serviço do hospital (conhecido no meio como observership).
“O estágio foi essencial para eu optar por fazer a residência [em psiquiatria] na Alemanha, no próximo ano”, revela. “A experiência foi muito diferente do que vivi no Brasil e me proporcionou novas possibilidades”, diz. Ainda de acordo com Gabriela, o estágio permitiu acessar novos espaços e proporcionou confiança para buscar uma carreira internacional.
Já o aluno do 4º ano da FCMS João Luis Anrain Trentini conta que realizou seu estágio de neurocirurgia no Canadá em janeiro deste ano. “Foi uma semana no Regina General Hospital, em Regina, e outra no Royal University Hospital, em Saskatoon. Ambas as cidades ficam na província de Saskatchewan.”
Para João Luis, o programa de estágio é “uma oportunidade incrível, que agrega muito valor na formação do graduando e futuro médico, por permitir acompanhar a rotina de neurocirurgiões e observar os procedimentos, consultas e outras etapas da rotina destes profissionais”.
Ele também considera que, aliado ao que é ensinado pelos próprios neurocirurgiões nos centros que recebem os alunos brasileiros, é possível expandir a visão que o estudante possui sobre a especialidade e sobre a medicina como um todo.
Por sua vez, Nicole Tortoro Silva esteve na Universidade técnica de Dresden, na Alemanha, em janeiro de 2020. “Foi muito mais que agregar conteúdo ao currículo”, explica. “Foi uma experiência muito completa. O principal ganho foi conhecer o funcionamento de outros serviços, interagir e apresentar trabalhos em outros idiomas e compreender a importância de ser um médico respeitado em sua área”, enumera.
Exemplos que vieram da sua família
O professor conta que a inspiração para estabelecer os critérios de seleção vieram da sua formação familiar. “Meu pai era militar e muito exigente com o desempenho escolar dos seus filhos. Quando eu estava no segundo ano do colegial [atual Ensino Médio], prestei vestibular e passei na Poli-USP. No ano seguinte, fui aprovado na Poli, em Mauá e no Mackenzie”, relembra. “Até comecei a cursar engenharia na USP, mas acabei tendo contato com a Faculdade de Medicina da Santa Casa e foi ali que tive a certeza de que o meu sentimento era mesmo pela medicina”, conta.
Sua trajetória como estudante foi exemplar. Paulo Aguiar é o único discente da história da USP, até o momento, a ter conquistado todos os prêmios de primeiro aluno. Na vida profissional não é diferente: ele já realizou 8.790 cirurgias e detém o recorde de publicações na área de neurocirurgia (374, muitas das quais internacionais). Destas publicações, 68 tiveram a participação de alunos de Medicina. “No programa de estágio, uma das competências acadêmicas que julgo é a capacidade do aluno em produzir ciência, em produzir questionamentos”, pontua.