"O plural e as dessemelhanças": reflexões na Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde
Evento do C.A. Vital Brazil. com apoio da PUC-SP e do Setor de Atendimento Comunitário
Entre os dias 16 e 19/9, o Centro Acadêmico Vital Brazil, formado pelos alunos do curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde (FCMS), realizou o III Encontro da Pluralidade e Diversidade – Vem Pensar sobre a Diferença. Palestrantes expuseram vivências e pontos de vista a partir de quatro temas centrais: “Beleza é diversidade – ampliando nosso olhar”, “População carcerária: o direito à saúde realmente existe?”, “Alimentação sustentável: uma necessidade ou um estilo de vida?” e “Vida universitária e o autocuidado emocional: o despertar para novas descobertas emocionais, sociais e sexuais”.
Abertura
A abertura foi feita pela estudante Gabriella Di Cunto Alonso Munhoz, do 2º ano do curso de Medicina. “Estamos felizes com o apoio e o espaço que a Universidade ofereceu. Pensamos em transformar este encontro num espaço de construção social”, disse. Na sequência, o vice-reitor, Fernando Almeida, e a diretora do campus, Sonia Ferrari, saudaram os presentes e parabenizaram os organizadores do evento. “Sinto-me muito feliz em estar aqui pela terceira vez”, descreveu Fernando Almeida. “Em nome da Universidade, agradeço e parabenizo a iniciativa dos alunos, que abraçaram esta causa com muito interesse, trazendo temas desafiadores e uma programação muito interessante”, pontuou.
Ariana Galhardi: “Quando a mãe se olha no espelho e diz achar-se gorda, influencia a criança, chamando sua atenção para o próprio corpo e os das outras pessoas.”
O primeiro dia trouxe Ariana Galhardi, nutricionista, e Thara Wells, idealizadora e presidente da Associação de Transgêneros de Sorocaba. Ariana focou sua apresentação em como os padrões de beleza e as mídias sociais interferem nos transtornos alimentares, enquanto Thara abordou diversos aspectos sociais, comportamentais e físicos da pessoa trans.
Segundo Ariana, os padrões atuais, também classificados como ideais, estão cada vez mais difíceis e inalcançáveis, exatamente para não serem atingidos. A intenção, de acordo com ela, é fazer com que a sociedade pense que há - e que devam existir - padrões estéticos e de beleza. “A exposição deles evoluiu muito ao longo do tempo, assim como a pressão social para que sejam alcançados. Isso se deu, sobretudo, pelas ferramentas de comunicação”, afirmou. A nutricionista citou um estudo feito com jovens nativos de uma ilha. “Após três anos da chegada da tevê a esse local, eles, que não tinham dilemas corporais, passaram a ter. Assim, 54% começaram a se sentir gordos, 69% iniciaram algum tipo de dieta alimentar e 11% começaram a prática de vômitos induzidos”.
Ariana comentou que a própria família, mesmo que inconscientemente, também sugestiona as crianças e adolescentes à tirania dos padrões corporais. “Quando a mãe se olha no espelho e diz achar-se gorda, influencia a criança, chamando sua atenção para o próprio corpo e os das outras pessoas”, alertou. A própria comparação social, alimentada pelas mídias sociais, é muito grande. “Hoje, se compara desde o restaurante frequentado até o biquini usado”, destacou. “A sociedade se tornou imagética. A imagem fala o tempo todo. Isso causa insatisfação nas pessoas, o que pode desencadear transtornos alimentares.”
No trecho final da sua palestra, Ariana fez mais um importante alerta sobre como os padrões estéticos têm interesses econômicos velados. Afinal, a insatisfação, a busca persistente pelo ideal da magreza, a falta de diversidade de corpos e de referenciais são fertilizantes para a indústria da beleza. “Quanto mais ela [a indústria da beleza] te deixar infeliz, melhor para ela. Pois, quando se criam problemas para a sociedade, se tem como vender soluções”, finalizou.
Thara Wells: “Quando uma travesti ou uma pessoa trans passa a assumir o risco de morrer [injetando silicone industrial em seu corpo], ascende a uma posição dentro da comunidade e passa a ter direito à fala e a ser respeitada, tornando-se mais uma integrante do grupo, porque ela venceu a morte para ser o que realmente tem que ser.”
Extremamente simpática e bem articulada, Thara iniciou sua apresentação dizendo: “Sou uma pessoa trans. Mas por que ‘pessoa’? Porque sinto a necessidade de humanizar as pessoas trans”.
Ela contou que começou a questionar sua sexualidade aos seis anos de idade. “Não me via nem de um lado, nem de outro”, lembrou. “Há mais de 25 anos, não tínhamos tanta informação. Simplesmente estávamos ali, jogadas dentro dessa construção feita a partir dos conceitos do machismo e do que é ser mulher”, contou. Segundo Thara, isso permeia a mente de uma pessoa trans, sobretudo na escola, “onde é o pior lugar para pirar ou sucumbir às criticas”, revelou. “E, quando você consegue se livrar disso tudo, entramos num furacão: a puberdade e sua briga constante contra a natureza”, completou.
Thara tocou num ponto delicado: a utilização de hormônios e substâncias químicas para a transformação dos corpos. Ela contou que, dentro da comunidade trans, cobra-se muito para que seus membros os utilizem e tenham os resultados imaginados. “Quando a pessoa trans começa a fazer uso de hormônios e a modificar o seu corpo, ela quer moldá-lo ao que se vê. E, nessa construção social, você pira, pois eles [os hormônios] não vão lhe dar o seio ou o bumbum que imaginava”, alertou.
Sobre os polêmicos silicones industriais, Thara disse que eles continuam sendo muito utilizados. “As meninas ainda o colocam. Elas o aplicam com o uso de uma seringa originalmente usada para injeções em cavalo. Pela abertura [da agulha], o silicone passa, entra no corpo e, depois de sete dias, se solidifica, dando o formato desejado”, detalhou.
Ela também reconheceu que a comunidade travesti é muito machista e tribal. “Quando uma travesti ou uma pessoa trans passa a assumir o risco de morrer [injetando silicone industrial em seu corpo], ascende a uma posição dentro da comunidade e passa a ter direito à fala e a ser respeitada, tornando-se mais uma integrante do grupo, porque ela venceu a morte para ser o que realmente tem que ser.”
A sociedade, principalmente o meio feminista, também tem um viés e pensamento machista. “Quando encontram uma menina supermaquiada, o que dizem? Está parecendo uma travesti! Assim, revelam o pensamento pejorativo, segundo o qual se parecer com uma travesti significa estar feia. E, num país violento como o Brasil, onde mais se matam travestis no mundo, essa fala não pode mais existir”, pontuou.
Eliana de Paula Leite: “Elas [as detentas] padecem, são desassistidas na esfera dos direitos sociais, especialmente da saúde. Não obstante estão entre aquelas pessoas que deveriam ser priorizadas com o projeto da equidade, da integralidade e da universalidade.”
O segundo dia trouxe Eliana de Paula Leite, professora, enfermeira e bacharel em Direito; Maria de Fátima Franco dos Santos, professora e doutora em Psicologia; e Antonio Carlos Malheiros, pró-reitor de Cultura e Relações Comunitárias da PUC-SP e desembargador.
A primeira a falar foi a professora Eliana. Ela contou sobre o estudo que fez junto à cadeia pública feminina de Votorantim, cidade vizinha a Sorocaba, a partir da observação de que, rotineiramente, os carcereiros e as carcereiras costumavam apresentar demandas ligadas à área da saúde como solicitação de favor especial. “Saúde é direito de todos, mas não existe uma vírgula dizendo: menos para os que estão em instituições como presídios, cadeias, orfanatos ou hospitais psiquiátricos, por exemplo”, destacou.
Segundo Eliana, isso também a incomodava porque, em todos os seus artigos, a Constituição Federal roga por cidadania, justiça social e dignidade da pessoa humana. Assim, fui ver melhor como se dava essa questão de a saúde ser um direito de todos”, contou, referindo-se ao porquê de ter iniciado esse estudo.
Como as cadeias são espaços de detenção temporária (diferentemente dos presídios), pela lógica, elas não precisariam ter um sistema para atender urgências ou demandas comuns de prevenção de doenças e assistência à saúde. “Mas, na prática, isso é uma falácia. Isso, simplesmente, não acontece”, afirmo.
Ainda mais no caso das mulheres. “Elas têm demandas que os homens não possuem, que são próprias do gênero, como menstruação, gravidez e TPM [tensão pré-menstrual]. As cadeias não provêm recursos para a higiene íntima ou corporal, como sabonete, por exemplo. São as suas famílias que providenciam esses materiais”, relatou. “Elas [as detentas] padecem, são desassistidas na esfera dos direitos sociais, especialmente da saúde. Não obstante estão entre aquelas pessoas que deveriam ser priorizadas com o projeto da equidade, da integralidade e da universalidade”, defendeu.
No final da sua apresentação, a professora voltou a abordar o Artigo 196 da Constituição Federal. “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”, narrou. “Este artigo não só coloca a responsabilidade centrada no Estado, mas, também, apela para que se constituam políticas públicas que façam com que as pessoas tenham mais qualidade de vida. E, tendo mais qualidade de vida, elas têm saúde, pois qualidade de vida significa bons empregos, significa educação de qualidade, que vai possibilitá-las a ter dignidade humana, o que está dentro do primeiro artigo da Constituição Federal”, disse.
Maria de Fátima Franco dos Santos: “Afinal, eles não têm a opção de dizer ‘vou ao médico’ ou ‘vou à consulta’. Só podem ir se isso for permitido. São pessoas que estão abandonadas”.
Na sequência, a doutora em psicologia e professora Maria de Fátima Franco dos Santos apresentou dados extraídos de um trabalho que realizou, em 2018, juntamente às suas alunas da PUC-Campinas, a partir de entrevistas com 65 encarcerados (todos homens) em regime semiaberto, nos centros de progressão penitenciária.
Segundo ela, a média de idade que, há pouco tempo, era de 20 anos, hoje se situa na faixa dos 18 anos. “São pessoas que deveriam estar começando a buscar um lugar na vida, a constituir suas famílias, talvez estudar, mas estão confinadas pelos delitos que cometeram”, contou.
Infelizmente, os encarcerados apresentam mais doenças que a população não encarcerada, por conta das más condições de higiene, da não atenção à saúde, da insalubridade e da falta de prevenção de doenças, explicou a psicóloga.
Da população pesquisada, 27,7% apresentavam problemas de saúde. Destes, 61,2% relataram não receber medicamentos na prisão. “Afinal, eles não têm a opção de dizer ‘vou ao médico’ ou ‘vou à consulta’. Só podem ir se isso for permitido. São pessoas que estão abandonadas”, disse.
O trabalho revelou que as drogas mais consumidas nesse espaço eram a cocaína e a maconha, totalizando 34%. O crack não apareceu no levantamento porque o PCC (Primeiro Comando da Capital) não permite sua comercialização e uso dentro das penitenciárias, pelo risco de seus membros se tornarem usuários, podendo morrer em decorrência do consumo, relatou Maria de Fátima.
Antonio Carlos Malheiros: “Fora as outras ações, decorrentes de presos mortos dentro das detenções e das penitenciárias, pois o Estado tem que responder por isso. Ele é responsável por guardar essas pessoas, inclusive cuidando bem da sua saúde.”
A última palestra do segundo dia foi com o desembargador e professor Antonio Carlos Malheiros, também pró-reitor de Cultura e Relações Comunitárias da PUC-SP.
Ele contou sobre a sua experiência na área da saúde e em relação ao sistema carcerário. Relembrou o seu trabalho com crianças de rua, em situação de drogadição, nos anos 70, e de um colega de trabalho que faleceu em decorrência da Aids, por volta de 1985.
E foi justamente o médico que atendeu essa pessoa que o levou a conhecer a enfermaria do Hospital Emílio Ribas, onde ficavam os pacientes com aids. “Conheci os primeiros doentes, todos homens homoafetivos”, lembrou. “Só tinha uma menina de 18 anos. Depois chegaram os hemofílicos, os promíscuos, os que injetavam drogas e os que receberam transfusões com sangue contaminado”, disse.
Narrou que descobriu, naquela ocasião, que as famílias dos internados não iam visitar seus parentes hospitalizados por nojo, medo, raiva e vergonha. “Foi naquele momento que larguei meu trabalho nas ruas e comecei a trabalhar com os doentes, e de lá não saí mais. E, graças a esse trabalho, fui jogando fora os meus preconceitos, tijolo por tijolo”, revelou.
Aliás, segundo o professor, foi a história de um desses pacientes que o levou a desenvolver a sua dissertação de mestrado. Era um jovem cantor, de 25 anos, cuja mãe não o perdoava por ser homossexual desde que descobriu o fato, quando ele tinha 15 anos de idade. Ela sequer teve coragem de se aproximar do leito, instantes antes de ele falecer, por esse mesmo sentimento. O título da dissertação foi “A timidez do legislador constituinte ao definir família e a família formada pelo afeto”.
O desembargador também foi presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, de onde coleciona muitas histórias. “Fomos a uma penitenciária na Zona Norte de São Paulo. Era início dos anos 90. De lá, trago uma das mais tristes lembranças: a de um preso, na enfermaria, morrendo, pois eles só podem ir a um hospital quando não tem mais jeito. Ele estava inconsciente e tomando soro. Perguntei que soro era aquele e me disseram que era um soro caseiro, feito com água, sal e açúcar. Falei: então, não resta mais nada a fazer além de rezar.”
De acordo com ele, a situação atual dos jovens acolhidos na Fundação Casa não é muito diferente da população carcerária em termos de saúde, mas não é nada extraordinária. “Os que têm problemas de saúde são atendidos na enfermaria e somente os casos mais graves vão para um hospital”, alertou.
Como magistrado, o professor tem a incumbência de julgar o Estado. “Vocês não podem acreditar no número de ações movidas por familiares de detentos, acusando o Estado de negligência diante de doenças que poderiam ter sido tratadas de forma séria e digna”, revelou. “Fora as outras ações, decorrentes de presos mortos dentro das detenções e das penitenciárias, pois o Estado tem que responder por isso. Ele é responsável por guardar essas pessoas, inclusive cuidando bem da sua saúde”, finalizou.
Clarisse Hellen Farhat Paiva: “A alimentação deve ser sustentável para o indivíduo, enquanto ser alimentado; a agricultura, para garantir continuidade de vida no planeta; e para o trabalhador rural, em condição de renda e de saúde.”
No terceiro dia, Clarisse Farhat, professora de Geografia Econômica e Política do curso preparatório para vestibulares Poliedro, abriu as palestras abordando a questão da segurança alimentar frente à ótica geopolítica contemporânea. Ela se pautou nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, uma coleção de 17 metas globais estabelecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU).
“Enquanto cidadã política, eu me responsabilizo pela lógica da minha alimentação”, disse. “Como esse alimento foi desenvolvido? Quais as pessoas envolvidas, os sistemas econômicos, os interesses, a lógica de reprodução do capital em cima da agricultura alimentar?”, questionou.
A docente também trouxe seu ponto de vista em relação ao amplo conceito de pobreza. “Existe aquela que é endêmica, gerada pelo acúmulo de capital. Mas existe outra condição, gerada pelo uso excessivo e pouco sustentável do espaço geográfico. Isso pode ser observado no ambiente urbano e, também, rural”, ponderou. “O combate à pobreza no campo envolve a garantia de que o trabalhador rural terá acesso ao meio de produção para promover o seu abastecimento e, ao mesmo tempo, sua condição de renda. Isso, dentro do capitalismo, está cada vez mais difícil, devido à concentração de terras.”
O agronegócio e as sementes transgênicas (que trazem o risco de contaminação cruzada em plantações convencionais) também foram alvo de críticas de Clarisse. “Como o pequeno agricultor se sustenta [neste cenário]? Isto também é violência silenciosa. O ato de nos alimentarmos não explicita esta condição. A gente se alimenta sem a consciência de que o agente produtor do alimento está sofrendo esse tipo de violência.”
De acordo com a professora, estamos muito distantes de acabar com a fome no mundo. “A produção agrícola, hoje, é maior do que a demanda. Porém, o problema é garantir o acesso da população a alimentos em condição nutricional favorável. Além disso, temos que garantir que seja economicamente viável que essas pessoas se mantenham alimentadas. Acabar com a fome é uma questão de saúde pública, de propagar a vida”, pontuou.
Maria Paula de Albuquerque: “Até os 24 meses, a criança tem o seu sistema nervoso amplificado de uma forma ímpar no seu desenvolvimento. Se ela tem uma baixa quantidade de ferro, ela terá comprometimento neurológico mais tarde.”
A seguir, a doutora Maria Paula de Albuquerque, membro do Grupo de Pesquisa “Nutrição e Pobreza” do Instituto de Estudos Avançados da USP, trouxe a discussão sobre a alimentação saudável na gestação e nos primeiros anos de vida da criança.
Ao abrir sua palestra, ela comentou: “Temos que ser sustentáveis logo no princípio, quando somos concebidos. Alguns autores até dizem que isso é pré-concepcional: quando homens e mulheres estão planejando a gravidez, a nutrição e a qualidade da alimentação já interferem nesse indivíduo que vai resultar, nos primeiros mil dias”.
Este conceito de “primeiros mil dias” é também conhecido como “a grande janela de oportunidade do ser humano”. Ele abrange desde a gestação até o segundo ano de vida. É aqui que, metabolicamente, o bebê começa a se programar – e, por isso, a alimentação da mãe tem um impacto significativo.
“Uma mãe que já entra na gravidez com excesso de peso e suas comorbidades já começa a programar seu feto, pela epigenética, a ser um bebê doente. Ele nascerá com receptores de saciedade e fome alterados e, também, com adiposidade”, alertou Maria.
Ela também mostrou dados preocupantes sobre a alimentação das crianças pequenas. Até os seis meses, o bebê não deve ingerir nada além de leite materno – porém, na prática, não é isso o que acontece. “O Brasil é campeão em doação de leite materno, mas, ainda assim, é o nono mercado de fórmulas lácteas”, comparou. “Nosso tempo de aleitamento exclusivo é de 52 dias, em média”, lamentou.
Até os dois anos de idade, não é recomendado oferecer açúcar aos bebês. “Ele é um dos maiores fatores de vício alimentar. Nada de bolacha recheada, iogurte de potinho, suco de pozinho ou alimentos ultraprocessados.”
Ao fim da palestra, os universitários puderam visitar uma feira de produtos orgânicos instalada em frente ao auditório.
Julia Lelis Vieira: “Vocês sabem o que é tempo livre? A gente é educado para escovar os dentes, comer direito… mas ninguém nos orienta sobre o tempo livre. Ninguém fala, nas escolas, sobre o que é recreação e lazer.”
Graduada em Educação Física pela Universidade de Franca, Julia Lelis abriu o último dia de palestras. Ela revelou que, em congressos relacionados à área do lazer, é a única que associa a importância das atividades recreativas para a saúde mental. “No ano passado, tive o privilégio de compartilhar os resultados da minha pesquisa de mestrado no Congresso Mundial de Lazer, realizado em São Paulo”, destacou.
“A saúde mental ainda é deixada de lado. Quando alguém diz que foi diagnosticado com diabetes, todo mundo responde: ‘vamos mudar sua alimentação’. Agora, se você disser ‘estou meio mal, meio deprê’, a resposta é ‘larga de frescura!’, ‘é o calor, a pressão cai, aí você fica mal mesmo’”, comparou. “Então, por muito tempo, [este aspecto humano] foi negligenciado. Hoje, nós temos espaço para falar dele.”
Durante sua residência, o foco de Julia foi estudar a relação entre saúde mental e lazer. No mestrado, ela voltou sua atenção para os estudantes da área da saúde. Agora, no doutorado, ela analisa os pré-aposentados e aposentados.
Julia indicou que existe um instrumento denominado Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde. Ele tem sido utilizado para mensuração de nível de suspeição de transtornos mentais. O questionário é aplicado de formas diferentes para cada gênero: os homens, por exemplo, têm maior tendência a negar tristezas ou dores. Porém, é possível ver alterações significativas nas respostas relacionadas ao consumo de álcool.
Voltando a falar sobre a importância do lazer, a profissional explicou que o propósito é “o caráter desinteressado dessa vivência” – isto é, literalmente, curtir o momento, sem ganhar nada com isso. Entre os tipos de lazer que alguém pode explorar, estão o físico-esportivo, social, artístico, manual, intelectual, virtual e turístico. Ela reconheceu que os universitários, geralmente, não têm disponibilidade de tempo. Contudo, propôs: “Será que, se você parar por 30 minutinhos, sua produtividade não será maior depois, por quebrar a rotina? Na saúde do trabalhador, isso já está comprovado. Por isso, existe a ginástica laboral”.
Saulo Vito Ciasca: “Identidade de gênero é uma convicção que a gente tem em se reconhecer como homem, mulher, nenhum gênero, vários gêneros, gêneros que fluem…”
No último dia, quem também se apresentou foi Saulo Vito Ciasca, que é graduado em Medicina pela USP, fez residência em Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP e tem título de especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria. Durante cerca de 40 minutos, ele abordou temas como aspectos da sexualidade, conflitos de identidade de gênero, a sociedade moderna, autopercepção, entre outros, com interação dos participantes.
O III Encontro da Pluralidade e Diversidade contou com o apoio da PUC-SP e do Setor de Atendimento Comunitário da Universidade.