Núcleo Lumen completa seu primeiro ano de atividades na PUC-SP
Projeto é coordenado pelo prof. José Luiz Goldfarb, coordenador da Cátedra de Cultura...
Por: Ana Lúcia Cabulon, médica há 31 anos, acupunturiatra há 18 anos, especialista em Medicina de Família e Comunidade, mestre em Educação nas Profissões da Saúde e docente da PUC-SP
Há milhares de anos, a Medicina Tradicional Chinesa vem sendo praticada para restabelecer e promover o equilíbrio biopsíquico do ser humano através de suas técnicas de tratamento. Entre as modalidades mais conhecidas estão dietoterapia, meditação, fitoterapia, acupuntura e Tai Chi Chuan, sendo a acupuntura a técnica mais difundida em todo mundo.
Os princípios desta medicina descrevem que todo ser vivo possui várias energias (Qi, Shen, Xue, Jing e outras), circulando em todo o corpo por meio de canais chamados meridianos e a doença aparece quando um desequilíbrio da circulação, da formação e/ou do armazenamento destas energias acontece.
A acupuntura estimula pontos que estão nestes meridianos, com a finalidade de manter o equilíbrio destas energias e, consequentemente, a saúde. A estimulação dos acupontos produzem efeitos locais e à distância, pois ali estão presentes verdadeiros feixes de fibras nervosas ligadas a uma complexa rede de nervos, vasos e fibras musculares que ao serem estimuladas, transmitem informações ao sistema nervoso central para a liberação de substâncias e transmissores com efeitos analgésicos, anti-inflamatórios, miorrelaxantes e antidepressivos.
Sabemos atualmente quais os efeitos e as reações provocadas pela acupuntura em nosso organismo, o que nos permite explicar os benefícios que esse tipo de tratamento pode nos proporcionar. Desta forma, pode-se inferir o quanto podemos ganhar em qualidade de vida ao utilizarmos esse tratamento milenar.
Além das agulhas, outros materiais e instrumentos podem ser utilizados para estimular os acupontos, como a moxa, um bastão incandescente da planta Artemisia vulgaris que é aproximado da pele do paciente sobre estes pontos, para levar calor ao meridiano ou canal e, com isso, aliviar a dor, o cansaço e provocar relaxamento muscular. Ventosas, laser e eletroestimulação também estão entre os recursos utilizados e o médico pode escolher um ou vários recursos para promover a ativação do ponto.
A acupuntura pode ser feita de forma sistêmica, quando se utilizam pontos distribuídos por todo corpo. Cada um tem sua localização precisa e uma função específica. Os pontos a serem estimulados em uma sessão de acupuntura dependerá do quadro clínico e do diagnóstico de cada paciente.
A utilização de um microssistema como a auriculoterapia é outra possibilidade. Uma técnica muito conhecida no Brasil tem no pavilhão auricular a representação de todo o corpo e neste local são feitos os tratamentos. Para a auriculoterapia pode-se utilizar sementes, agulhas e outros materiais já descritos. Craniopuntura, Koryo (acupuntura coreana nas mãos) e técnica do Punho-Tornozelo, são outros microssistemas.
Considerada uma especialidade médica desde 1995, a acupuntura já havia despertado o interesse desta comunidade algumas décadas antes quando muitos médicos foram até a China para entender melhor esses conceitos em seu local de origem.
Para o tratamento é necessária uma avaliação integral do paciente, onde o médico colhe a história, faz o exame físico e pode solicitar exames complementares. Assim, como em outras especialidades, há necessidade de um diagnóstico criterioso para definir se a acupuntura está ou não indicada. Com esses dados, o médico irá propor o tratamento, podendo associar diferentes técnicas ao mesmo tempo. Geralmente são feitos ciclos com 10 sessões que duram de 20 a 30 minutos. Estas sessões geralmente são feitas uma vez por semana, mas alguns podem precisar de mais de uma sessão semanal.
A acupuntura pode ser feita em consultórios, hospitais e oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, o SUS.
Em 1979 a Organização Mundial de Saúde, reunida com representantes de 12 países em Pequim, reconheceu 41 doenças que teriam benefícios comprovados com o tratamento pela acupuntura, associada ou não a um tratamento convencional. Entre elas:
Dores musculares de origem tensional ou traumática
Dores articulares
Dores lombares e ciáticas
Fibromialgia
Artrites de causas variadas
Dores de cabeça de origem tensional
Enxaquecas
Cólica Renal
Cólicas menstruais / TPM
Disfunção erétil masculina de causa não orgânica
Síndrome do climatério
Alergias
Asma
Transtornos de ansiedade
Depressão
Insônia
É cada vez maior a procura por sessões de acupuntura para o tratamento da Síndrome Pós-COVID-19, que é um conjunto de sinais e sintomas desenvolvidos pelo pelas pessoas acometidas após a fase aguda da doença. Os resultados com a acupuntura são animadores e muitas pesquisas sobre o assunto estão sendo desenvolvidas.
A acupuntura é consideração uma Prática Integrativa e Complementar porque não é preciso interromper um tratamento alopático (tradicional) para iniciar as sessões, pois ela se integra a todos eles e geralmente pode ser feita ao mesmo tempo. É possível utilizá-la desde a infância. Gestantes também podem se beneficiar, principalmente quando a acupuntura é utilizada para o alívio de náuseas e vômitos, assim como para melhorar dores lombares que incomodam no fim da gravidez.
Lembrando que este é um tratamento como outros e que, ainda que raramente, pode ter efeitos adversos se aplicado incorretamente ou sem indicação específica. Por isso, deve ser feito por um profissional habilitado e licenciado para a prática como é o caso do médico especialista.