Psicose pós-parto: quadro clínico evolui rapidamente e exige acompanhamento médico

Psiquiatra Elaine Henna (Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde) afirma que origem do transtorno é multifatorial e complexa

por Redação | 24/01/2022

A psicose pós-parto, ou psicose puerperal, é o transtorno psiquiátrico mais grave e menos frequente que pode acometer a mãe após o nascimento do bebê. Tem início súbito e costuma aparecer no segundo ou terceiro dia depois de ela dar à luz.

Habitualmente, as mulheres apresentam instabilidade emocional, confusão mental, desconfiança, nervosismo, delírios, alucinações, choro excessivo, estado de humor maníaco (pensar e falar extremamente rápido) e desorganização do comportamento, configurando emergência médica.

De acordo com a psiquiatra Elaine Henna (Medicina), assistente-doutora no Departamento de Saúde Coletiva e Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde, onde também atua como supervisora do Programa de Residência Médica em Psiquiatria, o transtorno é de causa multifatorial e complexa. “Os fatores de risco associados incluem histórico pessoal e familiar de transtorno bipolar, psicose puerperal em gestação anterior, descontinuação de tratamento na gestação, privação de sono e alterações abruptas nos níveis hormonais” explica.

Segundo a médica, que é doutora em Ciências na área de Concentração em Psiquiatria pelo IPq-HC-FMUSP, a puérpera pode ter sentimentos distorcidos não somente em relação à realidade, mas também ao bebê, que variam entre amor, indiferença, confusão, raiva, desconfiança e medo. “Na maioria dos casos, a vida e a integridade física da criança podem estar em risco”, alerta Elaine Henna.

Entendendo o contexto

Para compreender um pouco do espectro emocional ao qual as puérperas estão sujeitas, a chegada de um filho inicia um período de muitas mudanças, no qual se entrelaçam sentimentos como o amor, medo, insegurança, felicidade e tristeza. Estes, associados às alterações hormonais e do corpo da mulher neste período, podem ser fatores desencadeantes de transtornos do humor, além das dificuldades na vida pessoal, familiar, profissional ou econômica; gravidez não planejada e falta de suporte social.

Tratamento

O tratamento para psicose puerperal deve começar no aparecimento dos primeiros sintomas. Dada a gravidade, a internação é, habitualmente, necessária para salvaguardar a integridade da mãe e da criança. “O tratamento deve ser feito por um psiquiatra, com terapia medicamentosa”, orienta a docente da PUC-SP.

Diferença entre psicose e depressão pós-parto

A depressão pós-parto tende a se manifestar no primeiro mês do nascimento da criança até o sexto mês após o parto, com piora gradual dos sintomas. Ela consiste em sentimentos como tristeza, falta de interesse e de ânimo, melancolia, choro fácil, sentimento de culpa e de menos-valia, medo de machucar o bebê e alterações do sono e do apetite. Nos casos de depressão, é difícil para a mulher fazer as tarefas diárias e nutrir um laço com o seu filho.

Já a psicose tem aparecimento abrupto logo após o parto e a mulher passa a ter pensamentos muito incoerentes, sensação de perseguição, mudanças de humor e agitação, além de poder ter visões ou ouvir vozes. A psicose pós-parto aumenta o risco de a mãe cometer infanticídio, porque ela desenvolve pensamentos irracionais, acreditando que o bebê terá um destino pior que a morte.

A notícia também foi publicada no Jornal Cruzeiro do Sul. Clique aqui para ler.

 

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