Consciência Negra: Semana reflete sobre reparação e direitos humanos
Atividade teve a participação do poder público e de pesquisadores nacionais e internacionais
“O racismo coloniza ainda hoje o nosso imaginário, as nossas perspectivas cognitivas, a maneira como nós atribuímos sentido e significado à experiência vivida, também molda nossos padrões de conduta e os nossos afetos, ele está impregnado em nossas instituições políticas, jurídicas, econômicas. Ele é, de fato, um fenômeno estrutural e estruturante das nossas e não é um exercício fácil fazer o enfrentamento diário a essa engenharia tão sofisticada”
Isadora Brandão, secretária Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania
A Semana da Consciência Negra 2023 realizou, neste dia 23/11, duas mesas de debates em torno do tema geral Reparação e Direitos Humanos. A atividade foi organizada pela Pró-Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias em parceria com o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania.
Na abertura, o estudante Guilherme Torres, do curso de Serviço Social e participante do Coletivo Saravá, fez uma breve introdução, falando sobre sua experiência na PUC-SP e sobre a questão central da Semana.
“Ingressei através de cota racial e sou neto de Maria Lúcia, uma mulher preta. É importante citar isso, porque ter consciência sobre algo é preservar a memória, é entender que antes de nós houve lutas que nos permitiram estar aqui sendo representados. Minha fala neste evento, com o Coletivo Saravá, é produto da consciência de que os negros e as negras da Universidade precisam ter visibilidade e acolhimento”, afirmou Guilherme.
“Este evento nos convoca a pensar sobre os desafios para o ajuste de contas com o passado e com as políticas e com as políticas afirmativas de igualdade”, ressaltou o estudante.
A mesa de abertura do evento contou com a presença de Isadora Brandão, secretária Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania), da profa. Mônica de Melo, pró-Reitora de Cultura e Relações Comunitárias, e da vice-Reitora, profa. Angela Lessa.
Atravessados pelo racismo e por suas mazelas
Isadora Brandão destacou a parceria com a PUC-SP, na organização da Semana da Consciência Negra 2023. “É uma honra construir este evento com esta instituição, que tem tradição de defesa da democracia e de acolhimento de pautas importantes para o Estado brasileiro”, afirmou.
A secretária afirmou que a pauta do evento, por sua importância, deve estar presente cotidianamente nas reflexões e nas ações, mas destacou que o mês de novembro interpela ainda mais a todos a refletir sobre os desafios enquanto país e sociedade.
“Vivemos atravessados pelo racismo e pelas mazelas que ele produz. O racismo coloniza, ainda hoje, o nosso imaginário, as nossas perspectivas cognitivas, a maneira como nós atribuímos sentido e significado à experiência vivida, também molda nossos padrões de conduta e os nossos afetos, ele está impregnado em nossas instituições políticas, jurídicas, econômicas. Ele é, de fato, um fenômeno estrutural e estruturante das nossas. Não é um exercício fácil fazer o enfrentamento diário a essa engenharia tão sofisticada”, afirmou Isadora.
Enegrecer o conhecimento e os saberes produzidos na PUC-SP
A profa. Mônica de Melo, pró-Reitora de Cultura e Relações Comunitárias, destacou a importância das reflexões e da produção científica estarem acompanhadas de ações práticas de inclusão.
“Este evento, que temos feito todos os anos, é parte da política de inclusão racial da Universidade. Nosso desejo é alongar a parceria feita este ano com a Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos e colocar também à disposição do Ministério a nossa produção acadêmica”, afirmou a docente.
A pró-reitora lembrou ainda como a PUC-SP tem demonstrado ser uma Universidade preocupada com a questão racial, não só do ponto de vista da produção de conhecimento científico, mas também com ações concretas. “Recentemente, por exemplo, adotamos a cota racial para os concursos de contratação docente. Queremos enegrecer a nossa Universidade, enegrecer o conhecimento e os saberes aqui produzidos. São ações que, certamente, se inserem no contexto amplo da reparação que aqui estamos discutindo hoje”, ressaltou a profa. Mônica.
Políticas públicas e Universidade
A vice-Reitora da Universidade, profa. Angela Lessa, também destacou a importância da parceria entre a PUC-SP e o poder público.
“Esse evento em parceria com a Secretaria mostra a relação da Universidade com as possibilidades de transformação necessárias à sociedade e, na prática, com o estabelecimento de políticas que podem concretizá-las”, afirmou.
Assista no vídeo a seguir a íntegra do evento de abertura, que contou ainda com a mesa-redonda Reparação e Direitos Humanos: memória, experiências negras e políticas públicas.
Coordenada pelo prof. Amailton Azevedo, historiador e assessor da Pró-Reitoria de Relações Comunitárias, a apresentação teve a participação virtual de Cristiane Santos Souza, do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, representando Fernanda do Nascimento Tomaz, coordenadora de Memória e Verdade sobre a escravidão e o tráfico transatlântico de pessoas escravizadas; Josemeire Alves Pereira, da Coordenação Executiva do Projeto “Passados Presentes: patrimônios e memórias negras e afro-indígenas em Minas Gerais”; e do prof. Elísio Salvado Macamo, catedrático de Sociologia e Estudos Africanos na Universidade de Basileia (Suíça).
A Semana da Consciência Negra 2023 segue até o dia 24/11, com sessões de Gurpos de Trabalhos abertas ao público, especialmente estudantes e pesquisadores. Para tanto basta se inscrever em: https://eventos.pucsp.br/semanaconsciencianegra2023 (veja a lista dos GTs, as salas apresentação e horários).