Dia 4/9, às 18h, Arturo Hartmann e Bruno Huberman apresentam, no campus Monte Alegre (auditório 100), O Estudo da Palestina: Doutorado Sanduíche e Pesquisa de Campo.
Doutorandos em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas e integrantes do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (Geci/PUC-SP), ambos compartilharão suas experiências de pesquisa, mais especificamente o período que realizaram de doutorado sanduíche no Reino Unido e posterior pesquisa de campo na Palestina, entre 2018 e 2019, com bolsa Capes. Arturo e Bruno são orientados pelo prof. Reginaldo Nasser (RI).
*legenda da foto tirada por Arturo: Rodovia exclusiva para colonos judeus que corta Jerusalém, acompanhada pelo Muro de separação, que limita os vilarejos palestinos
A experiência de Arturo
Arturo pesquisa a influência de doadores internacionais na gestão e definição de políticas públicas palestinas, o que se configura como uma nova camada de controle que se justapõe ao confronto colonial entre israelenses e palestinos. Seus campos de estudo são os espaços fragmentados de Ramallah, Vale do Jordão e Faixa de Gaza.
Ele foi pesquisador visitante no Centro de Estudos Palestinos, parte do Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade de Exeter, sob a orientação do professor Ilan Pappé.
"O período foi importante por duas questões. A principal é que tive acesso a debates mais profundos sobre a pesquisa na Palestina. Como o Centro de Estudos Palestinos recebe pesquisadores das mais diversas áreas – Literatura, História, Sociologia e Relações Internacionais – de diferentes partes do mundo, há um importante debate sobre diferentes abordagens e caminhos de pesquisa. Isso ajuda no refinamento do olhar e a definir as possibilidades que a sua própria pesquisa tem. A segunda coisa foi ter acesso a alguns arquivos (lá há uma Arab Documentary Unit) que vão informar a parte histórica da minha pesquisa", afirma Arturo.
O doutorando também ressaltou que a pesquisa de campo, no seu caso, que estuda o impacto de agentes internacionais por meio de políticas de statebuilding, serviu para ter clareza da geografia dessa intervenção. "O vale do Jordão sendo um desses locais, entender a dinâmica colonial do bloqueio israelense de acesso de terras e águas aos palestinos era um passo importante. Além disso, como meu trabalho envolve acessar documentos, relatórios e minutas de reuniões de planos e definição de políticas, é importante, por um lado, dar voz às pessoas impactadas e, por outro, ter clara a inserção de como essas organizações de fora se inserem no confronto colonial que se dá in loco", conclui.
Legenda das fotos:
- Tanque de água israelense, que supre o abastecimento dos assentamentos ao redor da cidade palestina de Jericó, no sul do vale do Jordão
- Comunidade palestina de Wadi el Qilt Ka’abneh, que precisa de abastecimento de água emergencial, enquanto ao fundo, no topo das montanhas, está o assentamento israelense de Vered Yericho
- Assentamento israelense de Mehola, que ilegalmente ocupa terras da vila de Ein el-Beida, no norte do Vale do Jordão
A experiência de Bruno
Bruno investiga a economia política do processo colonial israelense em Jerusalém, demonstrando a estrutura racial das formas de desenvolvimento neoliberal na reprodução do espaço e das populações palestinas e israelenses. Ele foi pesquisador visitante no Departamento de Estudos de Desenvolvimento da SOAS (School of Oriental and African Studies), Universidade de Londres, sob a supervisão do professor Adam Hanieh. "O período no exterior me colocou em contato com uma grande diversidade de pesquisadores, debates e literaturas críticas a respeito da forma de pesquisar o processo de colonização israelenses da Palestina que, a partir do Brasil, temos muita dificuldade de obter. A SOAS, instituição na qual que fiz meu período sanduíche na Inglaterra, é um centro de encontro de pesquisadores e professores de todo o mundo que buscam descolonizar a forma que entendemos e vivemos o mundo, particularmente o Oriente Médio, a Ásia e a África", afirma Bruno.
"A experiência que tive ali foi determinante para eu poder compreender, durante a minha pesquisa de campo, as formas pelas quais o processo colonial israelense se concretiza no cotidiano de um grande centro urbano como Jerusalém. O processo colonial em curso em Jerusalém ocorre de forma combinada pelas práticas do capitalismo neoliberal, o que faz com que passe desapercebido para os milhares de turistas que a cidade recebe todos os dias. Revelar como ele funciona é fundamental para trazer justiça não apenas para as populações que vivem em Palestina e Israel, como para populações oprimidas de todo o mundo", ressalta o pesquisador.