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Obra da jornalista Carla Trabazo é fruto de pesquisa realizada na Especialização em Jornalismo Internacional da PUC-SP
Por Claudio Oliveira
Duas crianças, uma de 10 anos e outra de 2. A mais velha é obrigada a matar a mais nova. Era sua irmã. O horror é real e se passa na África, onde, anualmente, milhares de crianças são sequestradas e obrigadas a se tornarem soldados de grupos armados.
O difícil tema foi escolhido pela jornalista e ex-aluna de Especialização da PUC-SP Carla Trabazo para o lançamento de seu primeiro livro: Kadogos: A Vida de Crianças-soldado em Grupos Armados na África Central e Oriental (ed. Lisbon International Press).
Carla é de Salvador (BA), onde o livro foi lançado em dezembro de 2021.
A obra é fruto do trabalho final da Especialização em Jornalismo Internacional da PUC-SP, que a jornalista concluiu em 2017, sob orientação do prof. Eduardo Valladares.
“Em 2013, quando ainda era estagiária de um jornal em Salvador, eu estava procurando histórias diferentes para contar. Foi quando minha irmã, que trabalha com refúgio no ACNUR (Alto Comissariado da ONU para Refugiados), me falou sobre a existência de crianças-soldado e que algumas inclusive estavam no Brasil sob o status de refugiadas. O tema seguiu sendo para mim um interesse pessoal, até que na pós-graduação vi a oportunidade de escrever sobre conflitos em países africanos e, por consequência, abordar mais a situação das crianças-soldado”, conta Carla.
Segundo a autora, existem atualmente cerca de 260.000 crianças nestas condições em todo o mundo, sendo metade delas na África. O país escolhido pela jornalista para a pesquisa de campo foi Uganda.
“Kadogos, em suaíli, língua banto e um dos idiomas oficiais daquele país, significa crianças-soldado e pode ser traduzido também como coisas insignificantes, que é exatamente como são tratadas estas crianças”, afirma.
Carla passou por algumas das principais cidades de Uganda, como Gulu, Pader, Lira e Ogur, além de pequenas aldeias pelo caminho, todas na região Norte, a mais afetada pelos grupos armados.
O percurso também lhe deu a oportunidade de acessar a realidade de crianças que conseguiram deixar de ser soldados, foram reabilitadas e puderam voltar a viver em sociedade. Carla ainda viu de perto o drama vivido pelos pais que tiveram filhos sequestrados – tendo estes retornado ou não para casa.
“São vozes que não costumam ser ouvidas sobre o assunto, mas que nos permitem ter noção das pressões vividas nas comunidades e nas ONGs voltadas ao desarmamento, reabilitação e reintegração, além de nos deixar perceber o medo que é gerado pela falta de informação sobre jovens reabilitados”, relata Carla.
A jornalista considera que o recrutamento de crianças-soldado ainda é endêmico no século XXI. E conclui: “Os horrores que elas são obrigadas a ver e a cometer ficam profundamente marcados na memória. O processo de cura é um longo caminho a ser percorrido”.
Vida em São Paulo
Carla faz questão de ressaltar a importância de sua passagem pela PUC-SP não só para a realização do livro, mas também para a vida profissional.
“Sou baiana e me formei em Jornalismo em Salvador, mas decidi vir a São Paulo especificamente para fazer a pós-graduação em Jornalismo Internacional da PUC-SP. A Universidade foi minha porta de entrada não só para um vasto conhecimento na área, mas também uma forma de angariar uma rede de contatos profissionais e acadêmicos”, afirma.