Dissertação da PUC-SP recebe prêmio de melhor do Estado
Pesquisa foi realizada Otávio Finessi Júnior no programa de Mestrado Profissional em...
João Irineu de França Neto é multiartista, xamã, professor, pesquisador, escritor, poeta e ator
Primeiro indígena doutor em Psicologia Social pela PUC-SP, João Irineu de França Neto, acaba de lançar o livro "Diários na Aldeia - Escritos de um indígena potiguara", obra da Literatura Indígena.
A obra relata as vivências do multiartista, xamã e indígena do Nordeste do Brasil. Nela, o autor explora temas como o amor e a sua natureza; vida e morte; a arte; e a natureza em si, sempre com uma reflexão importante sobre a preservação das culturas tradicionais do país, mas também sobre a preservação de todo o planeta.
O livro é organizado a partir dos deslocamentos do autor de sua aldeia de origem para a aldeia global, que também é sua casa e é nossa casa, sem deixar de lado a marcenaria literária. "Escrevo estas linhas em busca de uma escrita literária. O texto se assemelha a um diário cronístico, no qual situo o lugar de onde escrevo, principalmente de aldeias de meu povo indígena Potiguara, onde resido e trabalho, mas também de João Pessoa, onde também resido e trabalho, além de outros lugares de minha peregrinação da existência, que não são necessariamente aldeias. Entretanto, são lugares que fazem parte da grande aldeia planetária em que todos(as) nós vivemos - Pacha Mama, nossa Mãe Terra... Por isso, em todas as minhas andanças, crio relações fraternas e amistosas, simbolizando laços comunitários de aldeamentos múltiplos", diz Neto.
Para 2025, o ex-aluno pretende publicar sua tese “Entre os riscos de suicídio de indígenas potiguara e os rabiscos emergentes da psicologia indígena”, que foi orientada pela profa. Maria da Graça Marchina Gonçalves.
"A formação em Psicologia Sócio-histórica, no Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da PUC-SP, me possibilitou ampliar os horizontes de pesquisa científica e de atuação profissional na construção e consolidação de uma Psicologia Indígena. Meu doutorado não é uma conquista somente minha (individualmente), mas é fruto da luta e resistência coletiva de meus ancestrais (indígenas agricultores e pescadores), os quais muitas vezes sequer tiveram direito a acessar os primeiros anos escolares. Mas deixaram-nos o belíssimo legado de relação amorosa e harmoniosa de cuidado com a Mãe Terra e sua imensa biodiversidade. Assim, busco afirmar no cotidiano uma Psicologia comprometida socialmente com as lutas históricas dos povos indígenas de Pindorama, a serviço do protagonismo dos povos originários na defesa de seus territórios e do meio ambiente, contribuindo para o cuidado com a Mãe Terra e a promoção do Bem Viver, numa relação de circularidade fraterna entre todos os seres do planeta."
O ex-aluno também foi aprovado recentemente em primeiro lugar no concurso docente de Psicologia Social da UFRJ, na área Psicologia, Comunidades, Povos Originários e Tradicionais.
Além de doutor em Psicologia Social pela PUC-SP, o potiguara é doutor em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e Pós-doutor em Dialetologia pela Universidade de Lisboa (CLUL). Professor de Linguística da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), na área de Linguagem e Cultura, Neto atua também como pesquisador das culturas populares e culturas indígenas; psicólogo clínico e social; psicanalista; escritor; poeta; ator e xamã. Atualmente articula um trabalho de cinema comunitário, e presta assessoria político-pedagógica ao movimento indígena em contextos urbanos.