Em 24 de março celebra-se o Dia Mundial de Combate à Tuberculose – uma doença milenar, identificada até mesmo nas múmias do antigo Egito, mas cujo agente causador só foi descoberto em 1882, pelo patologista e bacteriologista alemão Heinrich Hermann Robert Koch.
Esta data merece ainda mais atenção em meio à pandemia da Covid-19. Em 2020, um estudo da Stop TB Partnership, entidade sediada nas Nações Unidas, acendeu um sinal de alerta em todo o mundo. A organização prevê 6,3 milhões de casos adicionais e 1,4 milhão de mortes em decorrência da tuberculose até 2025, uma vez que os esforços de governos em todo o mundo se voltaram para conter o novo coronavírus. As estimativas foram calculadas com base em um lockdown de três meses e um período de 10 meses para restabelecer os atendimentos aos pacientes com tuberculose.
Alguns países estão mais expostos aos efeitos desta bactéria do que outros. A Organização Mundial da Saúde (OMS) enumera 30 nações com números expressivos de diagnósticos de tuberculose. Neste ranking, o Brasil encontra-se no 22º lugar, com cerca de 76 mil novos casos por ano. Entre as Américas, está em 1ª posição, com 33% de todos os casos registrados.
“Apesar disso, nosso país não tem uma epidemia generalizada”, explica a médica Sonia Ferrari Peron, pneumologista com título de especialista pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia/AMB e assistente da área de Pneumologia da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde (FCMS). “Os diagnósticos se concentram em algumas demografias, como os indivíduos HIV positivos, em situação de rua, em situação de pobreza ou privados de liberdade; a população indígena e pessoas que vivem em aglomerados”, complementa.
A pneumologista pondera, ainda que o Brasil evoluiu de forma significativa nas últimas décadas e mostra um cenário muito mais otimista, quando comparado a 20 anos atrás. “Os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, firmados em 2000 por 189 países, deveriam ser alcançados até 2015 para combater a extrema pobreza e outros males da sociedade”, relembra. “O sexto objetivo contemplava a tuberculose, tendo como meta reduzir em 50% a taxa de incidência e mortalidade, quando comparada aos valores de 1990. De acordo com a OMS, o Brasil atingiu essas metas e é o país que mais detecta a tuberculose dentre os países de alta prevalência da doença.”
Prevenção
“A prevenção é simples: deve-se levar uma vida saudável. Além disso, a vacinação com BCG deve ser feita logo que a criança nasce. É ela quem previne as formas graves de tuberculose”, elucida a doutora Sonia.
Transmissão: mitos e verdades
A transmissão ocorre por via respiratória, quando uma pessoa doente expele a bactéria por meio da tosse e de espirros. Este organismo fica no ar e pode ser inalado por outro indivíduo – geralmente, com imunidade baixa. “Não há transmissão do bacilo da tuberculose por meio de copos, talheres e outros utensílios, porque a contaminação é feita pelo ar”, reforça.
Tuberculose latente
Algumas pessoas infectadas não são transmissoras da doença. Elas possuem o bacilo no seu organismo, mas ele está “dormente”. Com isso, o indivíduo se mantém saudável, sem quaisquer sintomas. “Chamamos essa situação de tuberculose latente. Só as pessoas doentes transmitem a tuberculose”, comenta a pneumologista.
Grupos de risco
“Quem deve se manter atento são, em geral, as pessoas com baixa imunidade, como crianças pequenas, idosos, desnutridos, diabéticos, etilistas, portadores de HIV/aids, doentes que se utilizam de drogas imunossupressoras, indígenas, moradores de rua e pessoas privadas de liberdade”, enumera.
Diagnóstico e tratamento
Clinicamente, o diagnóstico observa sintomas como tosse produtiva por mais de três semanas, febre baixa (sobretudo no final da tarde), sudorese noturna e emagrecimento. A radiografia de tórax deve ser realizada em todos os indivíduos com suspeita de tuberculose. O diagnóstico de certeza é feito pelo encontro da bactéria no escarro.
O tratamento é feito com comprimidos fornecidos pelos postos de saúde. Eles não estão à venda em farmácias. Em todas as cidades do país existe, pelo menos, um posto de saúde responsável pelo tratamento desta doença.
“O paciente deve ser medicado por seis meses, em média. A tuberculose tem cura e a medicação é disponibilizada pelo SUS”, indica a especialista. Ela ressalta: “O tratamento nunca deve ser interrompido ou suspenso. Isso é gravíssimo, pois a bactéria pode se tornar resistente aos medicamentos de primeira linha. A partir daí, o paciente necessitará de medicamentos de segunda linha, que devem ser tomados por tempo prolongado”. Uma vez que a tuberculose esteja curada, é muito difícil uma recaída. Porém, ela pode acontecer, em casos de queda da imunidade da pessoa.