Silvio Santos: tese vira biografia-reportagem
Livro do pós-doutorando em Língua Portuguesa pela PUC-SP, Tiago Ramos e Mattos, conta a história do apresentador e empresário
Ícone da TV brasileira por mais de 60 anos, Senor Abravanel (nome de batismo do apresentador), mais conhecido como Silvio Santos, alegrou as tardes de domingo de muitas gerações. Hoje, aos 92 anos, está fora do ar desde que teve início a pandemia de Covid-19, em 2020 no Brasil, mas tem um público fiel, que sonha com seu retorno a telinha e vibra com seus bordões: "Máh, Oê!", “Ai ai ai, ui ui.”, “Quem quer dinheiro?”, “Quem quer um aviãozinho?”, “O Silvio Santos fala ou não fala?, entre tantos outros.
O professor, pesquisador e pós-doutorando em Língua Portuguesa pela PUC-SP, Tiago Ramos e Mattos, escolheu contar a história do apresentador e empresário em sua tese de doutorado, orientada pelo prof. João Hilton Sayeg de Siqueira, e que acaba de ser lançada como o livro "Sílvio Santos vem aí - a biografia-reportagem do “patrão” (Dialética Editora). “Sempre admirei Silvio Santos. Tenho uma memória afetiva, de infância, com os programas dele, assistia junto com minha vó materna”.
Com 316 páginas, a obra é uma biografia-reportagem, que segundo o autor oferece “ao leitor mais exigente uma riqueza linguística e cuidadosa argumentação a cada capítulo”.
Confira abaixo a entrevista com o autor:
1 – Por que escolheu fazer doutorado na PUC-SP?
A PUC-SP na minha vida representa a realização de sonhos. O sonho de começar e concluir uma graduação em uma universidade única e mundialmente prestigiada. O sonho de começar e concluir um mestrado na mesma universidade, que é referência nacional e mundial em pesquisa. O sonho de ser doutor. Falar de PUC-SP é falar de toda minha trajetória acadêmica: fiz graduação, mestrado, doutorado e estou realizando, no momento, estágio de pós-doutoramento pela Universidade. A PUC-SP abriu as portas da esperança para mim.
2 – Como foi a escolha de Silvio Santos para sua tese de doutorado?
Eu sempre admirei o Silvio Santos. Tenho uma memoria afetiva, de infância, com os programas dele. Assistia o ‘Programa Silvio Santos’ junto com minha vó materna, que ajudou a me criar. Eu comecei a estudar biografias ainda no TCC e fui complementando minha pesquisa no mestrado e doutorado. Em 2017, tive a oportunidade de ir à Portugal em um Congresso Internacional de Língua Portuguesa (SIMELP) falar da minha dissertação de mestrado. Eu havia trabalhado com a autobiografia e biografia de Malala Yousafzai, a menina paquistanesa que sofreu um atentado pelo Talibã. O professor Sirio Possenti (Unicamp) estava assistindo as comunicações no mesmo simpósio em que eu apresentava. Quando acabaram as apresentações, o docente em uma conversa reservada me perguntou: “Por que você fez da Malala? Acho que você perdeu dois anos escrevendo sobre ela”. E eu voltei para o Brasil pensando muito sobre isso. Eu sabia que continuaria trabalhando com biografias no doutorado, mas afinal, quem seria um nome com uma história de vida suficientemente forte que me trouxesse alguma representatividade nacional e acadêmica? O nome de Silvio Santos foi aparecendo – referência na minha infância – e foi tomando força gradativamente. Eu não poderia ter feito uma escolha melhor.
3 – No que seu livro difere de outras biografias? E qual a relação com a biografia escrita pelo Fernando Morgado?
Meu livro difere de outras biografias porque não é uma biografia. É uma tese de doutorado sobre uma biografia. Em segundo lugar, a biografia em questão, que foi objeto de nossa análise, não é uma biografia comum: é um hibrido de relativa estabilidade que intersecciona os gêneros biografia e reportagem. Já existem três ou quatro biografias de Silvio Santos. A primeira foi de Arlindo Silva e a segunda a de Fernando Morgado. Meu livro faz uma analise minuciosa da biografia de Fernando Morgado – que inclusive escreveu o prefácio do meu livro – provando que não é uma biografia comum, mas sim uma biografia-reportagem, advinda de uma dupla autoralidade: o autor Fernando Morgado e o autor Silvio Santos. A autoria de Santos se dá por meio das reportagens dadas a imprensa pelo homem do baú. A autoria de Morgado se dá por meio da construção da narrativa biográfica e também pela árdua pesquisa das frases enunciadas pelo apresentador ao longo da vida, que o escritor reúne no seu livro.
5 – O que é uma biografia-reportagem?
Uma biografia-reportagem é uma biografia cuja narrativa biográfica é escrita por meio da voz da pessoa biografada. As entrevistas, as notícias, as falas de determinada personalidade biográfica trabalham como um mote intertextual para que aquela vida seja contada por meio de uma narrativa real, verídica e, acima de tudo, verificável.
6 – Sua biografia é autorizada pelo Silvio Santos?
Pode-se dizer que meu livro tem a anuência e o reconhecimento precioso de Silvio Santos. Ele reconheceu meu trabalho! Quando levei minha tese pessoalmente a casa dele, correndo o risco de ser barrado e até hostilizado por seguranças, ainda não havia nem mesmo defendido a tese para a banca, escrevi meu nome a lápis na capa do fundo apressadamente. Jamais imaginei que ele fosse me ligar, mas ele me ligou. Na ocasião, disse que estava na página 235 e que estava gostando muito do trabalho. No dia seguinte me mandou um cartão escrito de próprio punho (o cartão está na capa do livro) e dois perfumes Jequiti. Quando decidi transformar a tese em livro encaminhei o primeiro exemplar a casa dele e ele me ligou de novo e tive a oportunidade de realizar um sonho: conhecer meu ídolo de infância e adolescência pessoalmente. Conversamos por 45 minutos aproximadamente e tive a oportunidade de tomar o café mais delicioso da minha vida. Se Silvio Santos não quisesse, não tivesse gostado da tese, do livro, se não tivesse aprovado, talvez nada tivesse acontecido, nem a defesa. Portanto, sou grato ao Silvio Santos, a PUC-SP e ao meu orientador de TCC, mestrado e doutorado.
7 – Quem foi seu orientador no doutorado?
Meu orientador de TCC, mestrado e doutorado foi o prof. João Hilton Sayeg de Siqueira, a quem sou profundamente grato. Em 2009, meu pai, que era artista plástico, veio a falecer repentinamente. Uma semana antes de seu falecimento, meu pai, José Bernnô, tinha proposto que escrevêssemos a sua biografia. Quando eu procurei o professor João Hilton e contei essa história e comuniquei o falecimento do meu pai desolado, o professor João me acolheu como meu orientador de TCC e perguntou: “Você sabe o que é biografia”? Eu respondi que não. E João Hilton falou: “Então nós vamos estudar isso”. O Prof. Dr. João Hilton Sayeg de Siqueira supervisiona hoje meu estágio de pós-doutoramento pela PUC-SP.
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