PUC-SP sedia encontro de reitores de universidades comunitárias promovido pela ABRUC
A reitora Maria Amalia Andery recebeu o prêmio Mérito Educação Comunitária pela sua...
Elias Paulino da Cunha falou ao J.PUC sobre sua experiência profissional, o doutorado e questões ligadas à inclusão
Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, no Brasil existem 28 milhões de pessoas com algum nível de deficiência auditiva, percentual que equivale a 14% da população do país (dados da Academia de Libras). O professor Elias Paulino da Cunha, que faz parte desta estatística e acaba de concluir seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (Lael) da PUC-SP, falou ao J.PUC sobre sua experiência profissional, o doutorado e questões ligadas à inclusão. “Tenho 33 anos de idade, sou surdo e leciono na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), onde atuo também como coordenador do Núcleo da Acessibilidade e Inclusão (NAI) e como representante da Comissão de Libras nos cursos de Licenciaturas e do Escritório de Ações".
Estudante e surdo
Preconceitos, desinformação e métodos equivocados são alguns dos problemas que um estudante surdo pode enfrentar, sobretudo quando se trata de uma língua estrangeira e para Elias Paulino, apesar de sua trajetória bem-sucedida, não foi diferente.
No canal que mantém no Youtube, ele conta algumas situações vividas, desde as primeiras experiências escolares, além de trazer informações sobre a comunidade de surdos. Para quem não entende linguagem de sinais (Libras), há narração em português.
Pela PUC-SP, além do doutorado, cursou também Língua Brasileira de Sinais (Libras), na Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação - Derdic e Lato Sensu em História, Sociedade e Cultura. "A Derdic me proporcionou maior engajamento nas comunidades surdas, vivências e interações, em constante luta pela e para a Educação Brasileira, precisamente, no que diz respeito à militância surda”. No Latu Senso seu tema foi: A Escola dos Surdos no Contexto do Neoliberalismo. "Fui orientado pela professora doutora Lilian Marta Grisolio Mendes, que me mostrou, por meio da história, os caminhos da militância e a necessidade de repensar a educação pela política”. conta Elias.
Doutorado
“Meu doutorado foi realizado na área da Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (Lael), com o título 'Surdos Professores: A Constituição de Identidades por Meio de Novas Categorias pelo Trabalho em Territórios Educativos’. Ele vai publicar em breve um livro sobre a pesquisa. Minha orientadora no doutorado foi a professora Fernanda Coelho Liberal, a quem muito admiro e agradeço pelo acolhimento da causa surda”, relatou Elias.
Segundo a profa. Fernanda Liberali (Lael), Elias mostrou esforço e muito interesse desde o início. “Ele foi o primeiro surdo a concluir um doutorado na PUC-SP. É uma pessoa excepcional, tem uma história brilhante e muito forte, primeiro precisou se virar para aprender num universo ouvinte, depois entrou na comunidade surda que tinha contra ele várias questões, uma vez que ele era oralizado e não sabia a língua de sinais direito. Estudou história e Libras, se tornou professor bilíngue em escolas para surdos. Ele trabalha enormemente pela questão da surdez, entrou num doutorado na área de linguística, ao mesmo tempo em que fazia uma graduação em Letras-Libras, então Elias é em primeiro lugar um grande batalhador”.
Para Elias a iniciativa de fazer um doutorado sendo surdo foi muito desafiadora, tanto para ele quanto para a iIstituição e toda a estrutura do curso. “Quando iniciei meu doutorado, confesso que o começo foi difícil porque os textos referenciais, em sua maioria, eram em Inglês, nada confortável para mim, mas a ideia do academicismo é justamente essa, sair da zona de conforto e despertar para o desconhecido".
Para a orientadora, o processo de Elias trouxe questões fundamentais para todos os envolvidos. “A condição dele se tornou um desafio para todos nós, porque Libras não era algo só para a gente realizar projetos, mas uma realidade nas aulas, na pesquisa e na extensão. Pensando na universidade, o questionamento que eu sempre fiz e as exigências que nós sempre fizemos, é que o Elias pudesse vivenciar o doutorado dele em sua plenitude, como qualquer outro aluno que eu oriento. Com a presença dele a gente pôde ter a experiência de ter um surdo, não só fazendo uma tese sobre a questão da surdez, mas experimentando e proporcionando aos colegas a possibilidade de viver junto com o surdo todo esse universo da universidade”, relembra a docente.
Elias também comentou sobre a estrutura da universidade. “No processo de formação eu acompanhava as aulas com a presença de um intérprete e isso foi extremante oportuno, à medida que as aulas processadas permitiam contemplar todo o conteúdo sem perder essa mediação comunicativa do contexto ali abordado”. O pesquisador alertou entretanto sobre futuras melhorias em relação aos alunos surdos. “Apesar dos aspectos positivos que foram mencionados, ainda vejo a necessidade da PUC-SP se aprimorar, para corresponder aos acadêmicos surdos, como proporcionar um curso de formação em Letras-Libras, para que novos profissionais e intérpretes sejam formados, para atender as demandas surdas na própria Instituição”.
Assista a defesa do doutorado de Elias: